"SAD HOUR"


Pois é... antes de rolar a nossa happy hour, gostaria de aproveitar um momento para uma pequena reflexão acerca do papel que temos na vida das pessoas.
Ontem aprendi uma lição: nunca perca a oportunidade de ajudar alguém, porque um dia, mais cedo ou mais tarde, você vai perceber que essa ajuda teria feito toda a diferença na vida dessa pessoa...
Ronaldo (nome fictício) é um jovem de mais ou menos 25 anos... mora na favela (Morro da Conquista) e tem um talento excepcional para a música. Tanto que já integrou a Banda de Concerto de Volta Redonda, a Orquestra da CSN e a Banda Municipal. Ronaldo toca trombone de vara. Estuda música há muito tempo e desde que o conheço, percebo que ele é muito dedicado...
Conheci Ronaldo quando este fazia a 5ª série (hoje 6° ano) em um colégio em que trabalhei. Ele não tinha muito interesse nas aulas de informática e me lembro que às vezes eu o isentava de alguma tarefa para que conversássemos alguns minutos sobre música... o sonho dele era (a ainda é, acredito) fazer faculdade de música.
Tivemos a oportunidade de trabalhar juntos uns dois anos depois. Na época eu integrava uma trupe de teatro e Ronaldo participou como dançarino em uma peça que montamos, onde seu tio era um dos músicos (excelente, por sinal...). Logo depois, ele chegou a ir algumas vezes ao ECFA, a convite meu, e gostou muito... O que eu queria era que o garoto ensinasse um pouco do que ele sabia para os alunos do espaço cultural, mas já naquela época eu percebi que o Ronaldo tinha muitos problemas. Apesar da tradição musical passada de geração a geração, sua família era muito pobre e vivia com muita dificuldade. Como o rapaz ainda não ganhava nada com a música, tinha que fazer um bico aqui e ali para ajudar em casa.
Foi aí que eu perdi a minha chance de ajuda-lo. Poderia ter conversado com algumas pessoas para que o jovem pudesse ganhar uma grana tocando e estudando música e poderia ter insistido para que ele não parasse o estudo regular. Ronaldo deixou a escola na 8ª série (9º ano) do Ensino Fundamental. Já ficava mais difícil para ele realizar o sonho de fazer faculdade...
Logo depois a vida me levou para outros caminho e perdi o contato com o Ronaldo por uns três ou quatro anos...
Ontem, quando ia visitar o meu pai e minha madrasta, encontrei o Ronaldo novamente. Quando passava por uma das ruas escuras ouvi alguém dizer meu nome. E lá veio o rapaz... mesma cara de sempre, só que mais alto e mais magro... veio apertar minha mão e me dar parabéns porque tinha me visto no desfile de 7 de setembro. Estava feliz por saber que eu ainda continuava trabalhando na Educação. Eu não fiquei muito feliz em vê-lo. Ronaldo estava bêbado...
Parei para conversar com ele e perguntei sobre a música, se ainda tocava, se continuava estudando, se já estava na faculdade... Ele coçou a cabeça e me respondeu que a faculdade era um sonho cada vez mais distante. Que estava precisando trabalhar muito e não tinha voltado aos estudos... Perguntei se eu poderia ajudar de alguma forma. Então ele me disse:
-Pois é, professor... você é um cara vitorioso. Nada contece com você e tudo o que você quer você consegue... Pra mim é diferente. Sou preto, sou pobre... as pessoas não dão chance...
Respondi a ele que também era pobre, afinal de contas, nós dois temos a mesma origem: O Morro da Conquista. E que o que acontece conosco nada mais é do que o resultado das nossas escolhas. E exemplifiquei:
-Olha só você! Poderia estar na escola nesse momento. Tem ensino fundamental à noite aqui pertinho... mas você escolheu ficar aqui, na rua, bebendo...
Ele respondeu: ­ -Ainda sonho com a faculdade, professor, mas não tenho mais condições de ficar em banco de escola...
Me ofereci para ajudá-lo a encontrar um supletivo para que ele consiga terminar o fundamental e fazer o ensino médio... Ele me agradeceu. Perguntou se eu por acaso não tinha cinco reais para lhe dar. Respondi que não tinha dinheiro, mas se ele estivesse precisando de algo eu poderia arranjar. Ele agradeceu e falou:
-Pode deixar, professor! Era para inteirar e comprar um “papel de 10”! Mas eu me viro por aí...
Apertou minha mão mais uma vez e sumiu nas sombras da rua.
Segui meu caminho com os olhos marejados. Ciente da minha responsabilidade naquela situação. Pretendo ajudar o Ronaldo a fazer o supletivo. Não posso deixar a droga roubar de vez da música o talento desse rapaz.
Um abraço a todos e fiquem com Deus.

4 comentários:

Anônimo 18 de setembro de 2008 às 22:55  

Caraca, Ganso.. muito legal que você esteja compartilhando isso aqui. Foi por acaso que achei o seu blogo.. cara, nem sabia que você tinha um blog!!! Serei leitora dele, agora!

Grande abraço,
Que Deus possa sempre nos orinetar quanto as responsabilidades que temos na vida! ;)

Janis

Anônimo 19 de setembro de 2008 às 01:13  

Aí, Ganso.. dá uma sacada nesse blog aqui. Um cara que resolveu meter o pau no blocodeconcreto..rs

http://bachareisembaixaria.blogspot.com/2008/08/declarao-de-princpios.html

Pô me passa seu e-mail ou msn!

Anônimo 19 de setembro de 2008 às 01:19  

Pô.. saiu errado o endereço do blog. Clica aqui no link abaixo:

blogbaixaria

Abraços,
Janis ;D

Underson 19 de setembro de 2008 às 09:10  

Valeu pelo comentário, Janis... Você também tem blog, né?
Qual o endereço?

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"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para abrir um bar."
W. H. Auden