GUSA


Na primeira foto a galera do GUSA hard at work nos estúdios BPM. Da esquerda para a direita, Borginho, Thiago Barril, Frankão, Daniel, Ike Castilho (dando uma força), Felipe Caetano, esse blogueiro, e nosso produtor, o grande Matheus Pinguim. Na segunda foto, Caetano, Frankão, Fred e Barril descansam entre uma sessão e outra de gravação.

Olá amigos! Esse final de ano tá meio correria, mas eu sempre tento arrumar um tempo para escrever aqui. Às vezes, pintam situações em que fica quase obrigatório um comentário no Boteco. E na maior parte dessas vezes, vocês são obrigados a aturar meus desabafos... Mas dessa vez não! Vim falar de coisas legais do passado e do presente.
No último dia 16/12, às 19 horas, o Centro Cultural da Fundação CSN ofereceu uma programação ímpar: tivemos a oportunidade de assistir uma sequência de curtas, disponibilizados pela ONG Fancine, aqui de Volta Redonda, que tinham como principal temática a Música Popular Brasileira, partindo da visão da música popular de um colecionador de discos antigos, passando por um fabricante artesanal de rústicas violas caipiras e o movimento punk na São Paulo dos anos 80 até o curta "O Mundo é Uma Cabeça", que fala sobre a trajetória do Chico Science. Este último filme em especial, tinha a temática totalmente ligada ao Espaço Cultural Francisco de Assis França, já que o Science é o patrono e principal inspiração para o espaço cultural. Por isso a coordenação do ECFA havia sido convidada para falar um pouco dessa influência e ainda trazer o Grupo de Estudos de Percussão da ONG para apresentar alguns ritmos característicos da Cultura Nordestina. Mais ou menos umas 40 pessoas estiveram presentes. Logo após esse último vídeo, e ainda com o público sob o impacto do mesmo, os percussionistas do ECFA mostraram a riqueza de ritmos como o Maracatu Rural, Maracatu de Baque Virado, Coco, etc.
Após essa breve performance, foi aberto espaço para um debate, conduzido pelo Frankão, uma das cabeças pensantes do ECFA, onde se falou da importância do Movimento Mangue Bit para a música brasileira e a influência do Chico Science sobre a rapaziada que acabou fundando o ECFA.
Quando o Frankão começou a falar sobre o GUSA, ele me chamou para explicar sobre a música "Coletivo Leucopenia", composição do Borginho, com alguns pitacos meus, que trata de um tema meio tabu aqui na cidade: as pessoas que ficam leucopênicas sem nunca terem trabalhado diretamente com o benzeno, graças à poluição do ar e da água (eu sou uma delas). O benzeno é um dos principais elementos do chamado "gás de coqueria", liberado constantemente na CSN.
Nesse dia, comecei a lembrar de tudo que vivemos enquanto tocávamos com o GUSA. Foram bons momentos que acrescentaram muita experiência, não só em nossas carreiras de artistas, mas também em nossa formação pessoal. Tive a oportunidade de tocar pela primeira vez em São Paulo (teatro municipal de Diadema) e de conhecer muita gente legal. Valeu, e muito. Lembrei também que eu tinha guardado em algum lugar um CD com a faixa interativa que fez parte de nossa primeira gravação, o "Sucateado". Esse CD, com três músicas gravadas em setembro de 2001, nos Estúdios BPM, em Copacabana, com a produção do amigo Matheus Pinguim (do qual já falei aqui), vinha em uma capinha de papel reciclado, feita artesanalmente. Fez muito sucesso na época.
Após o evento, algumas pessoas vieram me perguntar sobre o GUSA, onde poderiam encontram informação sobre a banda, etc., por isso, e para que meus amigos do boteco possam conhecer esse trabalho tão importante para mim, disponibilizei a faixa interativa na internet (clique aqui para baixá-la). É um arquivo em flash, com as três músicas, letras, fotos, imagens das capinhas artesanais e muita informação sobre a banda. Enjoy (e por favor, comentem).

PS. Aproveito o ensejo para desejar a todos que acompanham esse blog um final de ano feliz e tranqüilo, e que no Natal, possamos refletir e lembrar às nossas crianças, apesar de todo o apelo capitalista que a data tem hoje em dia, que Natal é muito mais que presentes. É quando comemoramos a vinda para o nosso planeta do espírito mais evoluído que já passou por aqui e que ainda hoje nos conduz deixando uma mensagem de amor, justiça e esperança que, infelizmente, até os nossos dias ainda não foi totalmente compreendida.

Um abraço a todos e até 2010!

Anderson Ganso.

"FLANAR" EM VOLTA REDONDA

Não estou aqui reclamando da vida. Isso não é comigo. Aliás, na medida do possível, driblando um revés aqui, outro ali, minha vida até que é bem tranqüila... Mas que às vezes sinto falta de velhos costumes, ah! Isso é verdade...
Um exemplo de costume que me faz falta é o de “flanar”. Há algum tempo atrás, depois da leitura e da música, flanar era o meu passatempo preferido. Não perdia uma oportunidade e quando não as tinha, eu as criava. Qualquer hora do dia e da noite era um bom momento para flanar. Flanava de dia, à noite, de madrugada, de manhã bem cedo... Cheguei até a adaptar um velho ditado. Gostava de dizer que “Deus protege as crianças, os bêbados e os flaneurs.” Claro! Porque só pode ser obra do Divino o fato de eu nunca ter sido assaltado ou agredido nas tantas vezes em que flanava, por exemplo, às duas horas da manhã de um sábado, em plena Amaral Peixoto, observando jovens drogados e travestis bêbadas curtindo a “liberdade” que só a madrugada concede aos cidadãos urbanos... ou nas vezes em que saia de casa, insone, e flanava pelo bairro às três da manhã para procurar uma cerveja gelada na primeira bodega que encontrasse aberta...
Flanar é um costume antigo e característico de quem gosta de observar a vida nos centros urbanos. Baudelaire gostava de flanar em Paris. João do Rio dizia que “Flanar é vagabundear com inteligência”. Concordo plenamente. Só para ficar claro, flanar é o costume de andar pela cidade sem compromisso e sem destino certo, caminhar pelo prazer de caminhar, com calma, para pensar na vida, para observar e sempre se surpreender com os mais diversos tipos e situações que encontramos pela frente (nenhuma relação com essa caminhada emburrecida que os médicos recomendam, onde as pessoas parecem autômatos com seus fones de ouvido e cara de insatisfeitos). É observar uma humanidade nua e crua, sem trejeitos impostos por convenções sociais determinadas por ambientes fechados, como shopping centers, onde todos ficamos parecendo vaquinhas-de-presépio, bois no matadouro ou burros em currais... É olhar o homem urbano em seu habitat natural, ou seja, nas ruas das cidades, onde é possivel ver de tudo e aprender com tudo.
Nessas minhas andanças, e não foram poucas, já vi de quase tudo. Já flanei pelo Rio de Janeiro, do centro à zona sul vendo coisas que só o Rio tem, já flanei em São Paulo, mais precisamente em São Bernardo do Campo, cidade com pressa e gente na rua vinte e quatro horas por dia. Aqui nessa região, quase todas as cidades já foram alvo do meu flanar: Piraí, lugar gostoso para andar durante o dia; Angra dos Reis, cais do porto com chuva fina e uma parada para tomar cachaça, batendo papo com os pescadores e aprendendo sobre como vencer o mar em pequenas e precárias embarcações; Resende, cidade estranha e organizada demais, parece mais ser de São Paulo do que do Rio; Barra do Piraí, a decoberta, em frente ao Colégio Barão do Rio Bonito, de um marco histórico da visita de Dom Pedro II, que contém lacrada em sua base documentos com reflexões da juventude barrense de 1920 para a juventude barrense de 2020; Barra Mansa, com seus pequenos becos e ruas estreitas que escondem botecos que parecem ter sido congelados no início do século e descongelados agora; e Volta Redonda, minha terra e meu lugar favorito para flanar, tanto de dia quanto de noite, onde sempre andei despreocupado pois, apesar de saber dos perigos, me sentia sempre em casa, entre amigos e conhecidos...
O flaneur, para ser bom no que faz, não pode ter preconceitos nem reservas de estar onde quer que esteja, conversar com mendigos, com prostitutas, com alcóolatras, entrar em sessões de Umbanda, em belas igrejas, em festas populares, tentar compreender as gírias da rapaziada do morro, entrar em rodas de samba nos botequins-pé-sujo no Aterrado, fazer amizade com os hippies-rastafaris que vendem astesanato na Vila, conhecer comunidades que ninguém se interessa em conhecer, como os moradores espremidos entre o pátio da rede ferroviária e a CSN, em frente à rodoviária, e ser recebido com alegria pelas pessoas, que se sentem isoladas da cidade, é se indignar com a violência da polícia contra os meninos de rua em baixo do viaduto Nossa Senhora das Graças e voltar para casa chorando, é ver os playboys do Laranjal puxando cavalo-de-pau com carros do ano... em suma, é viver a cidade com o que ela tem de melhor e pior. É compreender o ser humano, com seus tesouros e com as suas misérias... e, o mais importante, saber tirar uma lição de tudo isso.
Flanando, aprendi a olhar a cidade além das aparências, além das convenções, saber que tudo tem um lado bom e um lado mau.
Mas o tempo de flanar já passou. Tantos compromissos, tantos afazeres, filhos para educar, uma companheira precisando da minha atenção e eu da dela... a Paulinha, aliás, chegou a me acompanhar em algumas incursões pela cidade, olhando a vida e conversando sobre ela... quem sabe voltamos a andar por aí um dia? Pois quem já flanou conservará para sempre o gosto por essa prática, ao mesmo tempo tão perigosa e tão saudável, mas que nos faz lembrar que estamos vivos e fazemos parte de um contexto, lembrar que a cidade respira, cheia de movimento, cheia de segredos prontos para serem revelados...
A humanidade é fascinante. O flaneur é um arqueólogo do presente, com a vantagem de observar o objeto de seu estudo não por evidências ou pistas, mas “in loco”.

LOS BROÑAS - LAST SESSIONS


Finalmente encontra-se disponível o que eu havia prometido aqui. Recebemos e-mails e mensagens dos cinco continentes exigindo a liberação imediata das músicas de uma das mais cultuadas bandas do undergound brasileiro "LOS BROÑAS"! Logo após o post, seguem os links, então...
Mas calma! Antes de pular para as páginas de download, leia este post. Tem informações interessantes aqui.
Fui buscar o CD que continha a lendária gravação no consultório de um dos gloriosos participantes do
Movimento Mongocore, o Murunga, que agora é cirurgião dentista. Voltei correndo para meu escritório e coloquei o CD no laptop, espetei um fone e curti, com olhos marejados, esse pedaço tão divertido e criativo da minha juventude...
Aos que ouvirem essas músicas, já adianto que a qualidade da produção não é o que está em evidência aqui, até mesmo porque todas as músicas foram gravadas em take único, com um gravador comum de fita cassete e depois (bem depois) melhoradas e convertidas digitalmente. Levando-se em conta os recursos usados, o resultado até que ficou bom... Mas o que eu coloco em evidência nesse trabalho é a temática das músicas, tirando sarro com as mais malucas taras e perversões sexuais, além de todo o contexto em que as composições foram concebidas. Para que vocês, meus queridos leitores, compreendam melhor esse segundo aspecto, vamos dar uma passada na história da banda
Los Broñas:

CAP. I - O MOVIMENTO MONGOCORE

Bem no início dos anos 90 surgiu em nossa região um movimento estético cultural multimídia de vanguarda que recebeu o nome de
Mongocore, devido à estatura intelectual de seus integrantes. Eram pessoas tão inteligentes que, após vários estudos antropológicos e dias de meditação transcedental, chegaram à conclusão de que o melhor rumo que a humanidade poderia tomar era de se tornar uma raça de mongolóides. Não me refiro ao povo da Mongólia nem aos portadores de qualquer síndrome genética, mas àqueles que são loucos porque querem ser ou porque não se enquadram nesse ideal de existência equilibrado e com tudo no lugar certinho, imposto pela nossa sociedade. Ora, qualquer um sabe que por trás de toda ordem há o caos, que é o que realmente administra a existência... Pois bem, com base em raciocínios filosóficos como esse é que surgiu o Mongocore. E esse movimento consistia em cultuar todo aspecto da cultura pop que se aproximasse do conceito de imbecilidade e loucura caótica que seus integrantes considerassem ideal para a salvação da humanidade. O movimento tinha como patronos oficiais figuras como a Hebe Camargo e Adilson Maguila. Protestavam contra o que achavam errado com animados passeios ciclísticos (quer coisa mais monga?) e tinham sua bebida oficial: o Chouriço Shake!

CAP. II - MACACOS MOKEYS AND THE PÁSSAROS BIRDS

Os mongo boys e mongo girls, como eram conhecidos, também tinham suas manifestações artísticas, e a primeira banda a surgir nesse cenário foi a fantástica big band entitulada "
Macacos Mokeys and The Pássaros Birds". Com um estrondoso sucesso por conta de sua formação nada convencional: dois baixistas (Cheiroso & Sabão), dois guitarristas (Murunga & Borginho), dois bateristas (Rato & Xan) e dois vocalistas (Lúcio Pankão & Ganso). A "Macacos Monkeys" durou pouco devido a divergências criativas entre seus integrantes e logo depois se dividiu em duas super bandas, também emblemáticas para o Mongocore: "Engodo We Trust" e "Los Broñas".
Em breve teremos um post com a história da revolucionária banda "Engodo We Trust", mas vamos, queridos alunos, ao nosso tema de hoje:

CAP. III - LOS BROÑAS

Para um melhor estudo da história dessa banda, os especialistas das universidades de todo o mundo, depois de dezenas de fóruns e seminários, chegaram a um consenso e costumam dividi-la em três fases:
1ª Fase: Período nonsense escatológico: Ainda sob forte influência de sua experiência com os "Macacos Mokeys" e fazendo jus aos preceitos do Mongocore, nessa fase a banda apresenta suas primeiras composições, com uma temática nonsense e pornô-escatológica. São dessa fase as músicas "Caguei no Scargot", Suck My Saco (ambas pinçadas entre as pérolas do repertório do "Engodo We Trust", numa homenagem aos ex-compaheiros de banda) e "Tinha Sebo", primeiro hit internacional da banda, "Meu Pé Era Azul", "Ritinha", entre outras. Nessa fase também houve um breve flerte com a música popular brasileira e latina, com músicas como "Negue" (Nelson Gonçalves) e "Los Hermanos" (Mercede Sosa).
2ª Fase: Período Punk-Rockabilly: Nessa fase, Los Broñas sofrem uma transformação e passam a ouvir quase que exclusivamente músicas dos anos 50 e punk rock, o que, fatalmente, se reflete em seu repertório. São dessa fase músicas como "Rock´n´Roll Com Bananas", "A Mulher do Próximo", "Surubão Com Você?", "A Mulher Que Se Disputa" (parceria com o escritor e poeta paulista Glauco Mattoso), "Coffin Joe" e, num flerte com o hip-hop, o clássico "Azgorda". Essa pode ser considerada a fase mais visceral e produtiva da banda, e foi também quando eles se tornaram mais conhecidos ainda, devido às suas bombásticas performances ao vivo. Só quem presenciou poderia expressar com exatidão o que significava ir a um show dos Los Broñas...
3ª Fase: Período Experimental Psico-Brega: Nessa fase, Los Broñas voltam aos áureos dias do Mongocore, e começam a apresentar composições que traziam de volta a estética "Mongo" e acrescentaram ainda um pouco de romantismo canastrão. Músicas como "Azvéia" (cuja base melódica é uma homenagem à música "A Praça" de Carlos Imperial), "A Hora H", "Memórias de Um Jumento Tarado Num Convento de Freiras Virgens Ninfomaníacas", entre muitas outras, levavam as jovens mongo girls aos prantos...
Ao longo de sua gloriosa carreira, Los Broñas lançaram algumas demos oficiais, que hoje são disputadas a tapa nos leilões mundo afora. Entre elas estão: "Masturbação Coletiva" - primeiro registro oficial da banda; "Talvez Haja Inverno Nos Meus Cabelos, Mas No Meu Pinto Floresce a Primavera"; "Hoder a La Perrita és Una Cosa Super Creativa" e "Los Broñas Desplugado". Por isso, nobre leitor, o material que você tem a sua disposição é uma raridade, encontrada por acaso no porão da casa de um dos integrantes da banda. Algo como se o Ringo Starr aparecesse com gravações inéditas da melhor fase dos Beatles! Por isso não perca tempo: Clique rapidamente nos links abaixo e obtenha esse tesouro!



Posso ter omitido alguma aspecto importante dessa maravilhosa história, por isso, convido aos demais conhecedores da história do Mongocore que, possuindo alguma informação adicional, mandem ver nos comentários.
Um abraço a todos e até a próxima.

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"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para abrir um bar."
W. H. Auden