PERIGO: O BONDE DAS DESCONTROLADAS SE PREPARA PARA A COPA

Pela primeira vez aqui no blog uso o recurso de "quibar" um texto de outrem. Ora, mas nesse caso trata-se de LUIZ ANTONIO SIMAS. E além de ser esse cara, ele ainda escreveu exatamente o post que eu queria escrever aqui (claro que muito melhor do que eu escreveria), mas taí essa pérola para os leitores do Boteco apreciarem. Só colocar no blogroll não seria suficiente...

Para ver a postagem original do Simas, recomendo fortemente visitar o blog dele, o ótimo HISTÓRIAS BRASILEIRAS, e virar seu seguidor também.
Ao contrário do Simas, não gosto de futebol, mas penso a mesma coisa sobre os torcedores(as) de plantão que surgem em época de copa. Haja paciência.
Fiquem então com o mestre Luiz Antonio Simas:


Outro dia fui a uma festa de casamento que virou, lá pelas tantas, um baile funk. Uma das pérolas do repertório - que sacudiu a rapaziada -  foi uma música [sic] com letra de grande sensibilidade poética: Elas estão descontroladas! Ah! Ah! Elas estão descontroladas!

Sim, o batidão funkeiro insistia em martelar: Elas estão descontroladas! Imediatamente, sob efeito da britadeira sonora que vitimou meus ouvidos e quase me fez enfiar a cabeça na privada,  pensei na Copa do Mundo da África do Sul e no tal do descontrole feminino. Explico a relação.
Conheço gente que tem com a lei do impedimento a mesma relação que eu tenho com a lei das órbitas elípticas de Kepler: total desconhecimento. Não obstante, essa mesma gente costuma se mobilizar para torcer pelo escrete nos mundiais com um fervor patriótico digno de um Caxias, uma Maria Quitéria, um Osório.
Duas senhoritas do colégio onde trabalho, por exemplo, foram ao mercado popular para comprar adereços auriverdes e vuvuzelas esporrentas. Querem, as meninas, se enfeitar nas cores nacionais para curtir o mundial. Travei com elas o seguinte diálogo:

- Meninas, eu não sabia que vocês gostavam tanto de futebol. Que beleza!

- Nós detestamos futebol. Mas na Copa do Mundo é outra coisa. A gente quase morre de tanto torcer pela seleção. Chorei muito e passei mal quando o Brasil perdeu pra França em 2006.

- ...

Soube hoje que uma boate de Copacabana, reduto dos gays descolados, passará os jogos em telões. A mesma coisa aconteceu na copa de 2002, quando a decisão Brasil e Alemanha, realizada às oito da matina, foi assistida pelo público alternativo numa festa com o sugestivo nome de Alvorada das loucas por um canarinho.
O fenômeno, enfim, é paradoxal e recorrente: o torcedor mais histérico em períodos de Copa do Mundo geralmente detesta futebol. A transformação é digna de um show da Konga, a mulher gorila. Mal a bola começa a rolar e  surgem os primeiros sinais de  descontrole emocional. Gritos, palavrões, pitis, piripacos, quedas de pressão e, eventualmente, desmaios, fazem parte do repertório desses futebolistas bissextos - quase sempre mulheres e bichas.
Não, não estou sendo preconceituoso. Não é preconceito - é conceito mesmo.  Já caí na esparrela de aceitar convites bem intencionados e acabar  assistindo a jogos de copa em eventos que mais pareciam micaretas. Presenciei saracoticos femininos e pelo menos uma ameaça de suicídio de um fresco. A boneca, que mal sabia que a bola é redonda, se tremelicava toda e teve que assistir ao jogo sob efeito de calmantes.

O problema é que as descontroladas não torcem; fazem performances. Se paramentam com camisas  customizadas, unhas pintadas de verde limão e amarelo ovo, purpurinas, brincos que mais parecem argolas de ginástica olímpica e declarações do tipo: ah...se não ganhar o Brasil, torço pela Itália. Os italianos são uns gatos.

Registro: estou longe de achar que futebol é coisa só pra homem. Quero crer que ninguém detesta mais esses saracoteios femininos do que as mulheres que de fato entendem do babado. Nada pior para uma mulher que gosta de futebol do que assistir os jogos na companhia das desvairadas de plantão.


É por isso que, para concluir, me declaro devidamente vacinado contra essas maluquices. Aviso aos navegantes, e juro por São Mané Garrincha, que assistirei aos jogos do escrete em petit comité. Quero estar cercado, na medida do possível, apenas de gente amiga e que acompanha futebol com alguma regularidade.

Que os deuses do futebol me mantenham longe, muito longe, desse bonde das descontroladas:

Amém.

Mercado Livre

"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para abrir um bar."
W. H. Auden