NÓ NA ORELHA


Tem uma semana que esse disco, que eu peguei lá no Parabolicamarah, tá rodando no meu mp3. Depois da porrada inicial, levei um tempo para digerir esse maravilhoso trabalho. Criolo é um trabalhador de longa data do hip-hop nacional (ele inclusive mudou sua alcunha, que antes era "Criolo Doido").

Realmente, de doido o cara não tem nada. Ele tem, sim, uma visão própria e afinada do que são os subúrbios paulistanos, e muito além disso: Criolo traz o que há de melhor em termos de influência musical, passando pelo Afro Beat de Fela Kuti & cia, brincando com ritmos diversos e, o que é mais legal, se sentindo à vontade em cada um deles. Criolo tá em casa. E bem acompanhado. Ele reuniu nesse disco um time de feras capitaneados pelo Daniel Ganjaman, que dispensa comentários pela qualidade de tudo o que fez até agora.

Não sou um grande conhecedor, mas não escuto nada tão inspirador no hip hop nacional desde Babylon by Gus do Black Alien.

Criolo pega pesado mas, ao mesmo tempo, uma poesia, de uma sensibilidade tocante, permeia todo o trabalho. Sente aí:

NÃO EXISTE AMOR EM SP


Não existe amor em SP

Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase 
De um postal tão doce
Cuidado com o doce
São Paulo é um buquê
Buquê são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você

Não existe amor em SP
Os bares estão cheios 
De almas tão vazias
A ganância vibra
A vaidade excita
Devolva minha vida 
E morra afogada no seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu

Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro tuas nuvens em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus.


Conversando ontem com o Thiago El Niño, artista do hip hop com um histórico respeitável, comentei sobre esse disco. E não é que o cara sacou da mochila um cedezinho com uma palavra só escrita nele: "criolo" e disse: "Tá aqui!" Pois é, a antena da galera continua sintonizando as mesmas e melhores freqüências.

Ah, claro, taí o link pro site oficial do Criolo, onde também é possível fazer download do "Nó na Orelha". É liberado. Deguste. http://www.criolo.art.br/criolononaorelhahotsite/

Abraços.

DIVAGANSOS


Apropriei-me de um termo cunhado pelo meu amigo e xará lá de Portugal, o Ganso, para o título desse post: "Divaganso", segundo a definição desse nobre exemplar da minha espécie: "A arte de divagar de um ganso."

Pois então; o que quero agora é divagar, junto a vocês, meus amigos e fiéis leitores, sobre a função desse blog em minha vida.

Escrever, para mim, sempre foi um grande prazer. Uma coisa que, desde criança, me deixa feliz é poder mostrar aos outros as coisas que escrevo. Desde as redações no colégio até as crônicas que eu mandava para jornais, sempre gostei de expor o que penso escrevendo. Aliás, me expresso muito melhor dessa forma do que com a fala. Se considerar qualquer forma de expressão corporal, então, como dança, etc. (isso mesmo tendo participado de diversos grupos de teatro), aí sim sou um verdadeiro desastre. Então me resta a escrita e em bem menor proporção, a música, para me comunicar com o mundo. O blog surgiu justamente com esse propósito: como um canal de comunicação onde eu poderia publicar minhas opiniões sobre os mais variados assuntos e receber de vocês o feed back dessas opiniões e quem sabe iniciar alguns debates.

Nunca pensei em usar o blog como algumas pessoas por aí, para auto-promoção ou até mesmo para propaganda enganosa. Não quero parecer melhor do que sou e nem acho que minhas opiniões sejam as mais acertadas sobre todos os assuntos que discuto. É por isso que o espaço de comentários está constantemente aberto, sem moderação inclusive (só não chinguem minha mãe, porque ela não tem nada a ver com isso).

Portanto, acho que chegou a hora de fazer um balanço. Em setembro próximo o blog completa três anos de estrada. Publiquei 88 posts e consegui arregimentar 36 seguidores no Google Friend Connect, fora os que visitam o blog esporadicamente. Parece pouco se compararmos com outros, mas para mim é muito. Ainda mais se eu considerar não a quantidade, mas a qualidade das pessoas que não se importam em aparecer alí a direita como meus seguidores.

Falei de tudo um pouco aqui no Boteco. Divulguei trabalhos que acho importantes e atualizo todos os dias o blogroll ali da seção "O Boteco Recomenda". Me gusta. Me dá prazer imaginar que posso estar levando para alguém uma informação que aquela pessoa talvez não teria acesso. Gostaria, inclusive, que os leitores participassem mais... Há algum tempo, botei ali em baixo um contador de visitas. Mas quase nem fico acompanhando. Uma pessoa leu? Então já é lucro. Uma pessoa comentou? Lucro dobrado. Sempre respondo aos comentários, seja para debater ou simplesmente agradecer a visita.

Mas agora, vamos ao ponto. Vocês devem ter notado que os posts estão cada vez mais raros por aqui. O Boteco passa por uma crise existencial. Assumi inúmeros compromissos comigo mesmo e com outras pessoas, o que me forçou a deixar o blog um pouco de lado. Mas acho que vocês não merecem. A nova resolução tomada por aqui foi transformar o blog em espaço de debate para os temas que venho estudando na faculdade de História. Assim, estaria unindo o útil ao agradável. Mas antes de impor essa mudança, gostaria de saber de vocês o que acham. Posso aguardar um feed back? Se ninguém disser nada é porque concordam... Depois não digam que eu não avisei. Dou-lhe uma, dou-lhe duas...

Abraço a todos.

MEDO


Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da
El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor
Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá
Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá.

Mercado Livre

"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para abrir um bar."
W. H. Auden