TODO BRASILEIRO PRECISA ESCUTAR TOM ZÉ


Tom Zé é um grande artista. E no conceito verdadeiro da palavra: artista é aquele que percebe intensamente o mundo e se expressa na mesma proporção.Tom Zé traduz para nós, de forma anárquica e irreverente, essa realidade que nos chega adormecida e falsificada através de telas e lentes. Tom Zé é aquela sacudida seguida do grito: "ACORDA!"

Esse fim de semana ouvi dois discos do Tom Zé: "Jogos de Armar" de 2003 e "Estudando o Pagode" de 2005. Fazia tempo que eu não ouvia esses discos e, como das outras vezes, eles me trouxeram inúmeras reflexões, ligadas ou não às suas temáticas específicas (sim, porque os discos do Tom Zé têm sempre um tema que permeia toda a obra). Isso me fez lembrar que o Tom Zé, além de entreter pela qualidade da música, ainda cumpre a principal função de um artista: fazer pensar.

Interessante como a mídia se volta sempre para um tipo de música que nunca privilegia a reflexão. Povo que pensa é um perigo para quem domina. Tom Zé vem na contramão desse ideia  fazendo pensar e, mais importante, mostrando um Brasil que está cada vez mais apagado da mídia: O Brasil que canta, que dança, que ama e que pensa. Pensa tanto que faz até autocrítica.

Então, para salvar a cultura brasileira, ouçamos Tom Zé. Vamos levar Tom Zé para as escolas. Os Jovens precisam conhecer esse artista. Meu filho ouve Tom Zé, e gosta. Não me venham com esse papo de que a juventude não entende esse tipo de música. Nem todo jovem é burro.

Essa semana vi uma notícia que me aborreceu: um retardado atirou um copo de cerveja no Tom Zé no show do Circo Voador. É o Brasil dos ignaros, a massa de manobra lutando contra o país que pensa. Mais um alerta para que levemos a sério nossa cruzada contra a ignorância. Todo brasileiro precisa escutar Tom Zé.

Eis os links para baixar alguns discos do homem:

http://www.tomze.com.br/
http://thepiratebay.sx/torrent/4094828/Tom_ZA_

DAFT PUNK - RANDOM ACCESS MEMORIES


Eu ia escrever algo sobre o novo disco do Daft Punk, mas o Guilherme Guedes, do blog "Tenho Mais Discos Que Amigos" disse exatamente o que eu queria dizer. Então kibei o texto dele, que segue abaixo.
É engraçado como esse nosso mundo gira. Desde algumas semanas atrás, o disco mais esperado do ano, deste ano de 2013 da era cristã, é Random Access Memories, o quarto do Daft Punk. Até aí, nenhuma novidade; de 1997 pra cá, o duo francês é sinônimo de vanguarda na música eletrônica, tornando-se referência para infinitos outros a cada lançamento, remix, ou turnê. Tal expectativa é mais que normal.
Mas poucas vezes desde a “retromania” do rock pós-The Strokes criou-se tanta expectativa por um disco assumidamente com cara de velharia. Nas poucas prévias e declarações sobre o disco, Thomas Bangalter e Guy-Manoel de Homem-Christodestacaram que a proposta de Random Access Memories era “olhar para trás para seguir em frente”, ou seja: a linha de frente da música atual buscava quebrar a barreira do espaço/tempo para nos transportar diretamente para um início dos anos 1980 vivido em pleno século XXI. E o que significa quando os robôs mais populares do universo fonográfico desde o Kraftwerk olham mais para trás do que em qualquer outro momento da carreira? O vazamento e consequente streaming de Random Access Memories, nesta segunda-feira (16), veio para finalmente nos responder.
Para começar a conversa, Random Access Memories é um disco longo: são 74 minutos de duração, o suficiente para lotar cada MB disponível em um CD. Apesar disso, não é um disco difícil, daqueles que sofremos para acabar logo, pelo contrário: é suave, equilibrado, cristalino. É um álbum produzido com precisão milimétrica, com timbres deliciosos, e um combo de mixagem e masterização que soa perfeito até em mp3 de baixa qualidade – e nos cobre de ansiedade para ouvir o que o LP pode fazer com as nossas caixas de som. Tecnicamente, então, ponto para o Daft Punk. Mas se produção bastasse para construir carreiras de sucesso, talvez Katy Perry tivesse mais respeito e credibilidade que o Sex Pistols. O que Random Access Memories tem a nos oferecer artisticamente?
A dupla francesa sempre reverenciou o album oriented rock ou adult oriented rock (AOR), estilo popularizado no fim da década de setenta que mistura elementos de disco music, soul, R&B, funk e rock, mais especificamente através da cruza do rock com o jazz, o fusion. Canções de nomes como ChicBreakwaterBilly Joel e Electric Light Orchestra foram sampleadas em grandes sucessos do Daft Punk, mas o novo álbum leva essa paixão assumida além: é um tributo vivo ao AOR.
Random Access Memories é o trabalho mais orgânico da carreira do Daft Punk. Saem os samples distorcidos e reconstruídos à exaustão, e entram instrumentos reais, como a guitarra gravada por Nile Rodgers – responsável não apenas pelo Chic, mas também por linhas inesquecíveis de guitarra como “Let’s Dance”, de David Bowie – e a bateria de John “JR” Robinson, parceiro de longa data de ninguém menos que Quincy Jones. Tudo isso vem amarrado por batidas e programações eletrônicas, mas com duas nítidas diferenças: sem as explosões de sintetizadores dos álbuns anteriores, nem a absorção imediata de sucessos anteriores da dupla.
Basicamente, Random Access Memories tem três “tipos” de faixas: os grooves dançantes, as baladas com resultados irregulares e as faixas épicas e grandiosas que mesclam elementos dos dois tipos anteriores.
No primeiro time, temos “Get Lucky”, o primeiro single do álbum, cujo potencial para hit-chiclete é tão grande que apenas o teaser divulgado nos telões do Coachella foi suficiente para colar nos cérebros de qualquer um que habitasse a internet nas semanas seguintes. Além dela, temos a grandiosa “Give Life Back To Music”, que abre o disco como uma tour-de-force dançante, a deliciosa “Lose Yourself to Dance” e a animada“Fragments Of Time”, que tem um jeitão de single do Hall & Oates.
O segundo, o das baladas, é o tendão de Aquiles do álbum. Há algumas boas surpresas, como a belíssima “Motherboard” e a ótima “Doin’ It Right” – com voz do Panda Bear – mas “Within” e “The Game of Love” exalam cafonice, enquanto “Beyond” não conquista nem incomoda, apesar de ter uma levada interessante de baixo e bateria. Para fechar o pote, temos a dispensável “Instant Crush”, que inclui a participação de Julian Casablancas (The Strokes).
Já a seleção das faixas mais épicas do álbum é liderada pela impressionante “Giorgio by Moroder”, que em 9 minutos consegue a façanha de misturar de forma surpreendentemente conexa sintetizadores à la Kraftwerk, levadas dignas do Steely Dan, dois solos de bateria e discursos do pioneiro da disco Giorgio Moroder . “Contact” é outro épico, e fecha o álbum com maestria. Mas os mais de 8 minutos de “Touch”, com vocais do ator e compositor Paul Williams, tenta sem sucesso repetir a mistureba de “Giorgio by Moroder”, desta vez com elementos que funcionariam bem apenas em musicais de segundo escalão.
Random Access Memories não é de forma alguma um álbum ruim. É o melhor álbum do Daft Punk em muitos aspectos – apenas Discovery (2001) chegou perto de soar tão sólido e coeso. Mas a produção impecável não esconde o fato de que, durante os 74 minutos de duração do disco, o duo parece resgatar, resgatar e resgatar sem conseguir andar para frente, apenas montando as peças do quebra-cabeça ligeiramente fora de ordem – o que não implica em avanço. Se Random Access Memories fosse o álbum de estreia de uma nova dupla de produtores, poderíamos prever uma carreira promissora à frente dos franceses. Mas tratando-se da dupla que ditou tantos rumos tomados pela EDM desde o fim dos anos 90, Random Access Memories parece ficar aquém do esperado, e expectativa, tratando-se de Daft Punk, não é algo simples de se ignorar. Uma pena.
Random Access Memories está disponível em streaming gratuito no iTunes, e sai oficialmente na próxima terça-feira (21).
Nota: 7

PS do Ganso: Apesar da data de lançamento ser na próxima terça, ele já está rolando desde 2ª feira na minha play list, graças ao TPB.

DEUS NOS LIVRE DE UM BRASIL EVANGÉLICO!


Deus nos livre de um Brasil evangélico

Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles em avenidas da cidade com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação à bobagem estampada publicamente; hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. Antes explico: eu gostaria de ver o Brasil permeado com a elegância, solidariedade, inclusão e compaixão do Evangelho. Mas a mensagem subliminar dos outdoors, para quem conhece a cultura do movimento evangélico, é outra. Os evangélicos sonham com o dia em que cidade, estado e país se convertam em massa, e a terra dos tupiniquins tenha a cara de suas denominações.
Afirmo que o sonho é que haja um “avivamento” religioso que leve uma enxurrada de gente para os templos evangélicos. Não reside entre os teólogos do movimento qualquer  desejo de que valores cristãos influenciem a cultura brasileira. Eles anelam tão somente que o subgrupo, descendente distante dos protestantes, prevaleça. A eles não interessa que haja um veloz crescimento numérico entre católicos romanos; que ortodoxos sírios, russos, armênios ou gregos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse a tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra calvinista brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo não inglês, mas moreno. Caso acontecesse, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Respondo: seriam execrados como diabólicos, devassos e pervertedores dos bons costumes. Não gosto nem de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Um Brasil evangélico empobreceria, já que sobrariam as péssimas poesias do cancioneiro gospel. As rádios tocariam sem parar músicas horrorosas como  “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”.
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos calvinistas provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse Charles Darwin como “alucinado inimigo da fé”. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos. Derridá nunca teria uma tradução para o português. O que dizer de rebeldes como Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, seriam pesquisados como desajustados. Ganhariam rótulos para serem desmerecidos a priori como loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. A alegria do futebol morreria; alguma lei proibiria ir ao estádio ou ligar televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada de várzea, aconteceria quando? Haveria multa ou surra para palavrão?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu. Basta uma espiada no histórico de Suas Excelências da bancada evangélica nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para se apavorar. Se, ainda minoria, a bancada evangélica na Câmara Federal é campeã em faltas e em processos no STF, imagina dominando o parlamento.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura estadunidense. Obcecados em implementar os “valores da família”, tão caros ao partido republicano dos Estados Unidos, recrudesceria a teologia de causa-e-efeito, cármica, do “quem planta, colhe”. Vingaria o sucesso como aferidor da bênção de Deus.
Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica. Uma nova elite religiosa (os ungidos) destilaria maldição contra os “inimigos da fé”, os “idólatras”, os “hereges”, com mais perversidade do que aiatolás iranianos. Ficaria mais fácil falar de inferno e mandar para lá todo mundo que rejeitasse algumas lógicas tidas como ortodoxas.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro perguntando: Como seria uma emissora liderada por evangélicos? Adianto: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, os textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado, a qualquer livro da série “Deixados para Trás” do fundamentalista de direita, Tim LaHaye. O demagogo Max Lucado (que abençoou a decisão de Bush bombardear o Iraque) não calça o chinelo de Mário Benedetti.
Toda a teocracia um dia se tornará totalitária. Toda a tentativa de homogeneizar a cultura precisa se valer de obscurantismo. Todo o esforço de higienizar os costumes é moralista e hipócrita.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Jesus jamais pretendeu anular os costumes de povos não-judeus. Daí ele celebrar a fé em um centurião, adorador no paganismo romano, como especial e digna de elogio. Cristo afirmou que, entre criteriosos fariseus, ninguém tinha uma espiritualidade tão única e bela como daquele soldado que se preocupou com o escravo.
Levar a Boa Notícia – Evangelho – não significa exportar cultura, criar dialeto ou forçar critérios morais. Na evangelização, fica implícito que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, como sempre fizeram. O evangelho convoca à pratica da justiça; cria meios de solidariedade; procura gestar homens e mulheres distintos; imprime em pessoas o mesmo espírito que moveu Jesus a praticar o bem.
Há estudos sociológicos que apontam estagnação quando o movimento evangélico chegar a 35% da população brasileira. Esperemos que sim. Caso alcançasse a maioria, com os anseios totalitários e teocráticos que já demonstra, o movimento desenvolveria mecanismos para coibir a liberdade. Acontece que Deus não rivaliza a liberdade humana, mas é seu maior incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.
Soli Deo Gloria
Publicado orginalmente em http://www.ricardogondim.com.br

E CRISTO CHOROU SOBRE OS PALÁCIOS DO VATICANO



Andando pelas comunidades eclesiais de base constituídas  de ribeirinhos da Amazônia, nos limites com o Acre, lá onde viceja uma Igreja pobre e libertadora, ouvi de um líder comunitário, bom conhecedor da leitura popular da Bíblia, a seguinte visão que ele pretende ter sido verdadeira.

Estava um dia a caminho do centro comunitário, quando se viu transportado, não sabe se em sonho ou em espírito, aos jardins do Vaticano. Viu de repente um Papa, encurvado pela idade, todo de branco, cercado pelos seus principais cardeais conselheiros. Faziam o costumeiro passeio após o almoço, andando pelos jardins floridos do Vaticano.         

De repente, o Papa vislumbrou, a uns poucos metros de distância, a figura do Mestre. Este sempre aparece disfarçado seja como jardineiro para Maria Madalena seja como andarilho para os jovens de Emaús. Mas o sucessor de Pedro, afastando-se do grupo de cardeais, com fino tato,  identificou logo o Ressuscitado. Ajoelhou-se e quis proferir a profissão de fé que fez Pedro ser pedra, pois sobre esta fé  se constrói sempre a Igreja :”Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”.

Nisso foi atalhado por Jesus. Olhando o palácio do Vaticano ao longe e o perfil dos prédios da Santa Sé, disse Jesus com voz entristecida: ”Não te bendigo, sucessor de Pedro,  o pescador, porque tudo isso não foi inspirado por meu Pai que está nos céus mas pela carne e pelo sangue. Digo-te  que não foi sobre estas pedras que edifiquei minha Igreja, porque temia que então as portas do inferno poderiam prevalecer contra ela”.

O Papa ficou perplexo e olhou o rosto do Senhor. Viu que caiam-lhe furtivamente duas lágrimas dos olhos. Lembrou-se de Pedro que o havia traído duas vezes e que, arrependido, chorara amargamente. Quis proferir algumas palavras, mas estas lhe morreram na garganta. Começou também ele,  o Papa, a chorar. Nisso o Senhor desapareceu.

Os Cardeais ouviram as palavras do Mestre e se apressaram para amparar o Papa. Este logo lhes disse com grande severidade: ”Irmãos, o Senhor me abriu os olhos. Por isso, as coisas não podem ficar como estão. Temos que mudar e mudar em muitas coisas. Ajudem-me a realizar a vontade do Senhor”.

O Cardeal camerlengo, o mais ancião de todos, afirmou: ”Santidade, iremos, sim, fazer alguma coisa conforme a vontade do Mestre  e segundo a tradição dos Apóstolos. Amanhã reuniremos todo o colégio cardinalício presente em Roma e, invocando o Espírito Santo, decidiremos como vamos proceder, consoante as palavras do Senhor”.

Todos se afastaram pesarosos, vindo-lhes à memória aquelas cenas do Novo Testamento que se referem a Jesus chorando sobre a cidade santa, que matava seus profetas e apedrejava os enviados de Deus e que se negava a reunir seus filhos e filhas como a galinha que recolhe os pintinhos debaixo de suas asas.

Um e outro entretanto, comentavam: ”irmãos, sejamos realistas e prudentes, pois nos toca viver neste mundo. Precisamos de edifícios para a Cúria e o Banco do Vaticano para recolher os óbulos dos fiéis e cobrir os nossos gastos. Podemos negar essas necessidades? Mas vejamos o que o Espírito nos inspirar”.

No dia seguinte, quando os cardeais se dirigiam à sala do consistório, graves e cabisbaixos, o secretário do Papa veio correndo e lhes comunicou quase aos gritos: ”O Papa morreu, o Papa morreu”.

Nove dias após, celebraram-se os funerais com toda a pompa e circunstância como manda a tradição.  Vindos de todas as partes do mundo, os cardeais desfilavam com suas vestes vermelhas e luzidias, quais príncipes de tempos antigos. Depois sepultaram o Papa.

E ninguém mais se lembrou das palavras que o Mestre havia dito e que eles escutaram. E tudo continuou como antes nos palácios do Vaticano.

Post Scriptum: o Espírito Santo fala pelos sinais dos tempos. Um desses sinais são os escândalos ocorridos  que exigem reformas para resgatar a credibilidade da Igreja. Será que os cardeais no Conclave saberão ler esse sinal e dizer como no primeiro Concílio em Jerusalém: ”Pareceu bem a nós e ao Espírito Santo tomar tais e tais decisões”? Caso contrário, o Mestre continuará chorando sobre as pedras do Vaticano.

 Leonardo Boff, teólogo e escritor

FELIZ ANIVERSÁRIO, PRINCESA!


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"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para abrir um bar."
W. H. Auden