AMANHECER DE NATAL


Nos períodos cruciais da humanidade a Divina Providência sempre se manifestou, encaminhando ao orbe terrestre, apóstolos e sábios, gênios e santos, que ergueram o pensamento e a ética aos seus mais elevados patamares.
Em todas as Nações eles surgiram, conduzindo os povos ao descobrimento e à vivência dos valores elevados quão dignificadores da criatura humana, que vai sendo promovida, de etapa a etapa, no rumo da total libertação a que aspira.
Não obstante esse empenho, as lições desses missionários ao serem vulgarizadas sofrem adulterações que resultam da adaptação dos seus conteúdos às conveniências infelizes dos homens, responsáveis pelo retardamento da marcha do progresso geral.
Nenhuma exceção a esse comportamento nefando.
A história de verdade na Terra pode ser considerada uma viagem difícil, cujos resultados ainda não se fizeram realmente auspiciosa.
De um lado, o absolutismo do poder, o fanatismo da fé, a ignorância sistemática; de outro, a prepotência do orgulho e a ditadura do egoísmo sempre se antepuseram à vitória do bem, perturbando-lhe o avanço.
Apesar dessas dificuldades, a barbárie, a injustiça, a impiedade, o degredo, as matanças arbitrárias – salvo suas exceções periódicas – vão cedendo lugar à benignidade, à Lei, ao sentido de justiça, aos valores éticos e às conquistas espirituais que ora fascinam e envolvem milhões de indivíduos, os quais afanosamente se entregam ao labor de melhorar as paisagens do mundo.
Nesse extraordinário cometimento destacam-se a presença e a valia de Jesus na Terra.
Pairava, à época, um silêncio espiritual multissecular em relação ao povo hebreu, que parecia esquecido da sua destinação histórica.
Veio, então, Jesus, e trouxe a melodia poderosa da verdade, que cantou para as multidões, vivenciando todos os postulados que o caracterizavam como o Messias.
Profetizou, curou enfermos, enfrentou com elevação a pusilanimidade, escolheu os infelizes, que elegeu como seus amigos, renunciou aos títulos e posses, conviveu com a dor, aceitou as humilhações, desvelou-se inúmeras vezes, e não foi aceito.
Aqueles que O seguiram e O difundiram pelas terras do Império Romano, passados os dias gloriosos do martírio, tiveram suas palavras, como ocorreu com as d’Ele, adulteradas aos interesses transitórios, impondo-as desfiguradas à posteridade.
Mesmo assim, o perfume do amor que lhes impregnava as diretrizes conseguiu permanecer; e até hoje a figura ímpar do Mestre Galileu impõe-se, afavelmente, como modelo incomum para a humanidade.
Do Seu berço à cruz há toda uma epopéia de amor, ainda não compreendida em sua profundidade legítima, que os tempos se encarregarão de elucidar e estabelecer como necessária à vida.
O Seu Natal, por isso mesmo, tornou-se o amanhecer de uma Era Nova que lentamente se está implantando no mundo.
Embora os atuais rumores e ameaças de guerra, que perduram apavorando as criaturas, enquanto a lembrança do Natal de Jesus permanecer na mente e no coração humano, o amor fluirá em bênçãos, afastando o monstro de extermínio dos horizontes, por ora tumultuados.
Aproveita, desse modo, o amanhecer deste Natal, e imprime o teu amor nos corações que te cercam, nas vidas que fazem parte da tua vida.
Deixa que Jesus, que já trazes nos sentimentos, por teu intermédio afague os sofredores de todos os tipos, diminuindo-lhes as dores e as insatisfações.
E se, por acaso, ainda não O trazes comandando as tuas emoções, abre-te ao amanhecer do Seu nascimento e instala-O no país dos teus anelos, experimentando, a partir de então, a felicidade como jamais esperavas fruí-la algum dia em tão elevado grau de plenitude.

(Do livro "Antologia Espiritual", Psicografado por Divaldo P. Franco)

Desejamos aos amigos de boteco um Natal de luz e paz, na presença do Divino Mestre Jesus.

A INTERNET SOMOS NÓS


A internet já evoluiu muito dos anos 80 (época em que eu ainda a chamava de "internerd") até hoje. E eu arrisco dizer que isso é apenas a primeiríssima fase dessa evolução. Conforme mudam as necessidades, os conceitos e as soluções também vão evoluíndo.
Atualmente, fala-se muito em Web 2.0, termo que para mim carece um pouco de sentido, mas representa a forma como usuários e desenvolvedores passaram a encarar o conteúdo produzido na internet, que deixou de ser uma mídia estática, feita por especialistas e passou a ser produzida por qualquer um (olha eu aqui escrevendo meu blogzinho...). Web 2.0 é, portanto, a internet que é feita por nós, míseros mortais, e engloba todo conteúdo colaborativo, como as wikis, blogs, redes sociais, etc.
Muito mais importante do que saber criar e acessar conteúdo nessa nova face da rede, é saber separar o joio do trigo num mar de bobagens e futilidade.

Um outro conceito que vem ganhando corpo é o de "cloud computing" (computação em nuvem), esse sim, para mim, um outro conceito de internet que poderia ser chamado de Web 2.0.
Para quem já ouviu falar, mas ainda não entendeu o conceito, explico em poucas linhas: é basicamente a forma de interagir com a rede criando e armazenando informação diretamente na internet, sem necessidade de mídia física e nem software para processamento e armazenamento. Got it? Imagine que seu equipamento resuma-se basicamente aos dispositivos de entrada (teclado, mouse, etc...) e dispositivos de saída (monitor de vídeo, de áudio, etc...) e que todos os programas e arquivos acessados e armazenados fiquem na Web (daí vem "em nuvens").
O Google (sempre ele) já proporciona esse conceito. Já ouviram falar do Google Docs? É isso! Cloud computing...

Lembram que quando eu falei do equipamento citei os dispositivos de entrada e saída e não falei de unidade de processamento? Aí está a verdadeira revolução na utilização da internet e o próximo conceito que vamos compreender: World Wide Grid, "Grande Grade Mundial" (ou simplesmente WWG).
Te lembrou alguma coisa? Claro! A nossa velha World Wide Web (grande teia mundial), mais conhecida como WWW, que possibilita a troca de conteúdo multimídia pela internet através de protocolos específicos.

A WWG tem a proposta de tornar os computadores, pelo menos nesse formato que utilizamos hoje em dia, praticamente obsoletos, pois ela seria uma grade de processamento de informações on line, formada pelo poder de processamento de todos as outras grades do mundo interligadas, o que criaria uma possibilidade incrível de processamento de volumes de informação inimagináveis.
Adicione-se a isso uma pitada de inteligência artificial e teríamos a própria Matrix aí, prestes a nos escravizar...

Brincadeiras à parte, a WWG vem complementar o cloud computing, transformando a internet em um ambiente não só de troca de informação, mas de criação e processamento de informação em tempo real.
Já existe até um navegador capaz de interagir com o ambiente WWG e com as nuvens computacionais sendo desenvolvido por um consórcio de vários institutos de pesquisa europeus, o "g-Eclipse" (desenvolvido em código aberto, diga-se de passagem).

E por que vocês acham que o Google saiu na frente? Ora, informação é poder e o "Big G" está caminhando para se tornar a grande central de informação dessa nova internet.
Será que o exército de hackers de Zion terá que combater a Matrix Google no futuro? Sei lá. Só sei que, seja como for, nossos amigos Larry e Sergey estão cada vez mais com a faca e o queijo na mão. Todo cuidado é pouco...


Abraços e até o próximo post.

DANDELION


Settle down now and sit with me
Let me tell you how this all came to be
A yellow flower with your pedals to the air
And flying on paper wings that brought you here

Summer rolls on in the lazy hours
An ether dream way of hummingbirds and clouds
Midnight swims in the cool back waves
And you in my arms as it rolls away

Little dandelion
Let your heart keep time
Now the clouds are gone
All of your tomorrows shine

Born of restless night the moon as a pearl
Playing games down inside your soft warm world
Hear my voice I know that you can
You're the fire in my eyes the sun as a man

Seasons come along and seasons go
And what they'll leave behind I don't pretend to know
I'm afraid that all I have missed
Will loom very large when the darkness lifts

I will ride by your side
Wherever you go
I won't run I won't hide
Just letting you know
All of your tomorrows shine.
(Audioslave)

Acalme-se agora e sente-se comigo
Deixe-me dizer-lhe como tudo isto veio a ser
Uma flor amarela com o suas pétalas ao vento
A voar em asas de papel que trouxeram você aqui

As ondas de verão em preguiçosas horas
Um etéreo sonho de beija-flores e nuvens
À meia-noite, nadando nas ondas de volta à calma
E você em meus braços enquanto tudo se torna distante

Pequeno dente-de-leão
Deixe o seu coração dar um tempo
Agora as nuvens já se dissiparam
Revelando todo o seu futuro brilho

Nascida da noite agitada a lua é como uma pérola
Jogando em seu suave e quente mundo
Sei que você pode ouvir a minha voz
Sua visão é o fogo do sol em meus olhos de homem

Estações vêm e estações vão
O quê deixamos para trás, não finjo saber
O medo de tudo o que sinto falta
Se tornará maior quando as trevas se elevarem

Vou andar ao seu lado
Onde quer que você vá
Não vou correr, não vou me esconder
Apenas deixo você conhecer
Todo o seu futuro brilho.
(Tradução livre: Anderson)

Para minha princesa.

BANKSY

Existem artistas para os quais não penso duas vezes em prestar reverência, justamente porque cumprem muito bem a função principal de um artista na sociedade: informar e fazer saltar aos olhos aquilo que as pessoas comuns quase não percebem. O artista é o radar da sociedade e não pode, em qualquer hipótese, ter cerceado o seu direito a dizer o que bem entende, doa a quem doer.

É por isso que quero falar hoje um pouco da obra do genial artista gráfico britânico Banksy. Ele é um dos mais conhecidos artistas de rua do mundo. Nascido em Bristol, Reino Unido, em 1975, seus stencils são facilmente encontrados nas ruas de Londres e de diversas outras cidades, inclusive nos EUA. Iniciou aos 14 anos. Ao longo da vida, foi expulso da escola e preso por pequenos delitos.
Não se sabe sua identidade, não costuma dar entrevistas e fez da contravenção uma constante em seu trabalho, sempre provocativo. Os pais dele não sabem da fama do filho: "Eles pensam que sou um decorador e pintor".
Recentemente, ele trocou 500 CDs da cantora Paris Hilton por cópias adulteradas em lojas de Londres, e colocou no parque de diversões Disney uma estátua-réplica de um prisioneiro de Guantánamo.
Sua obra é carregada de conteúdo social expondo claramente uma total aversão aos conceitos de autoridade e poder.
Em telas e murais faz suas críticas, normalmente sociais, mas também comportamentais e políticas, de forma agressiva e sarcástica, provocando em seus observadores, quase sempre, uma sensação de concordância e de identidade.
Apesar de não fazer caricaturas ou obras humorísticas, não raro, a primeira reação de um observador frente a uma de suas obras será o riso. Espontâneo, involuntário e sincero, assim como suas obras.

Como prova de seu prestígio e da qualidade de seu trabalho, algumas obras suas alcançam altos preços em leilões de arte e recentemente, quando um painel seu foi "acidentalmente" apagado por funcionários da prefeitura de Bristol, o conselho municipal imediatamente reagiu, exigindo a recuperação do painel.

As imagens (clique nelas para amplia-las) que ilustram esse post são apenas um aperitivo do trabalho de Banksy. Para conhece-lo melhor, visite o site oficial clicando aqui. O site é em inglês, mas as imagens são fantásticas...

Por falar nisso, traduzi um pensamento do Banksy que está no link "manifesto" do seu site:
"Quando eu era garoto, costumava rezar toda noite para ganhar uma bicicleta nova. Depois de muito tempo, percebi que Deus não funciona dessa maneira, então roubei uma bicicleta e passei a rezar por perdão."

Sem comentários... ou melhor, comentem por favor!

Um abraço e até o próximo post.

ENGRANDECENDO O MEU EGO



Algumas pessoas têm sugerido postar minhas velhas letras de música e textos em geral aqui no Boteco. Achei a idéia legal, uma forma das pessoas conhecerem o que eu escrevia há dez, quinze anos atrás. Vou selecionar alguns textos, deixar de fora o que achar datado ou de qualidade duvidosa e colocar, de vez em quando, uma pérola do pensamento gansoniano para vocês aturarem. O uso para fins não comerciais (citando a fonte, é claro) está liberado, mas, por favor, não utilizem indevidamente pois está tudo registrado na Biblioteca Nacional (tá pensando o quê? Não é pouca m... não!). Então segue o primeiro:


UM SAMBA

Eu vejo minha vida como um samba
E é preciso ter ginga
Pois a vida é corda bamba
Corda bamba que a gente
Precisa atravessar
Ou corda bamba da viola
Que eu tento afinar
Por isso preciso ser forte
Saber qual é o momento
Um bom malandro não espera a sorte
Confia mais no talento
E a minha vida é um samba triste
Seja como for
Eu sempre encontro mais espinho
Do que flor
Mas no samba da vida
Alegria e tristeza vêm sob medida
Tristeza pelo que não se alcança
E alegria porque há esperança
E o meu samba com compassos
Cada vez mais sincopados
Vou levando no suíngue
E é isso que me distingue
Mesmo triste o samba segue
Triste é o samba, eu sou alegre!
Pois sei que a tal “esperança
Dança
Na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar.
Azar!”*

*Citação de João Bosco e Aldir Blanc em “O Bêbado e o Equlibrista”.

Esse poema foi escrito por volta de 2003, nos tempos do GUSA, e transformado em um samba de raíz, com direito a violão de 7 cordas e tudo, pelos grandes amigos e músicos Borginho e Felipe Caetano, meus companheiros naquela banda. A idéia partiu depois de ouvir "O Bêbado e o Equilibrista" com a Elis Regina e imaginá-la sendo cantada pelo Paulinho da Viola (vai entender...)

Aguardo os comentários...

Até a próxima.

MUNDO BIZARRO


Quem é da minha geração (trinta e poucos anos) lembra muito bem dos desenhos do Super Man e dos Super Amigos que passavam na TV entre os outros saturday morning classics (ô saudade...)

Entre os inimigos dos nossos heróis nessas séries havia o “Super Man Bizarro”. Era uma espécie de Super Man ao contrário, ou seja, em vez de inteligente, era imbecil, em vez de bom, era mau-caráter, etc... Ele era assim porque vinha de uma dimensão paralela onde tudo era ao contrário, conhecida como “Mundo Bizarro”. Pois é amigos de boteco... agora, algumas décadas depois, descobri que o Mundo Bizarro existe. Nós vivemos nele.

Tenho o “péssimo” hábito de questionar tudo e todos (principalmente a mim mesmo) e na última semana saí a perguntar nos setores pertinentes da administração pública quais seríam os eventos para o dia 20 de novembro, dia nacional da consciência negra, data que me desperta particular interesse, já que sou do Conselho Municipal de Defesa da Igualdade Racial. Até o dia 19 ainda não tinha conseguido nem uma resposta da Secretaria de Cultura e a frustração foi total quando nesse mesmo dia, à noitinha, uma coordenadora do Memorial Zumbi informou que não haveria qualquer programação oficial para esse dia. Pensei: “Puta merda! Uma cidade que tem um memorial em homenagem ao Zumbi dos Palmares (que aliás está abandonado e precisando de reforma) deveria fazer, no aniversário de morte desse personagem, uma celebração histórica, entre os principais eventos do calendário cultural da cidade!” Cheguei à conclusão de que essa oligarquia que se estabeleceu no poder utiliza o requinte de minimizar e desprezar qualquer data que represente lutas e conquistas do povão (vide o 9 de novembro...).

Outro fato que me chamou a atenção foi o comportamento da população da cidade (não posso falar por toda região, pois nesses dias permaneci em V.R.) diante do desastre ecológico que atingiu o Rio Paraíba do Sul na útima terça-feira. Só há uma classificação: bizarro!

Tirando as pessoas que estiveram na margem do rio e se indignaram com a mortandade de peixes e outros animais, algumas protestando muito oportunamente contra o absurdo, a grande maioria permaneceu impassível. Alguns nem tomaram conhecimento... A maioria ficou satisfeita com a multa aplicada à empresa responsável (que diga-se de passagem, jamais será paga...) e acha que o problema está resolvido. Gente... naquele dia nós corremos o risco de contaminação por um produto que segundo o Ministério da Agricultura é classificado toxicologicamente como altamente tóxico (Classe I), classificação ambiental como produto altamente perigoso, além de inflamável e corrosivo. Por pouco nós e nosso filhos não acompanhamos os pobres peixes na triste procissão de morte e dor em que se transformou o Paraíba, pois a empresa demorou a informar sobre o acidente e muitas estações podem ter captado água contaminada... Bizarro!!!

A bizarrisse desse povo está na capacidade de ser vaquinha-de-presépio, de aceitar tudo de cabeça baixa, ruminando os problemas pessoais como se fossem os mais importantes do mundo.

“Falou, linguarudo! O que o povão poderia fazer que as autoridades não fizeram?” Alguém com certeza vai me perguntar... e eu respondo: cobrar, pressionar, exigir, mostrar que está atento, que está de olho! E não falo em exigir punição para os responsáveis, é exigir que sejamos efetivamente protegidos de acidentes como esses. Exigir que a legislação ambiental seja reformulada e devidamente cumprida. Ligar ou mandar e-mail para o seu vereador, deputado estadual, federal, prefeito e o escambau, dizendo que está acompanhando e que qualquer vacilo será devidamente cobrado na próxima eleição. Precisamos trabalhar a opinião pública para que essas empresas irresponsáveis saibam que é um péssimo negócio prejudicar o meio ambiente. Precisamos lutar para deixar um planeta decente para nossos descendentes.

Mas infelizmente, se não mudarmos nossas atitudes, o que deixaremos é um “planeta bizarro”, onde cada pessoa é avaliada pelo que tem e não pelo que é. Um “mundo dos espertos” onde manda quem pode, obedece quem não tem opção... Onde o toma-lá-dá-cá está na ordem do dia e formam-se os pequenos grupos que levam vantagem em tudo, em detrimento da maioria.

Não sou socialista, mas acabo parafraseando Carl Marx: “Pessoas de bom senso de todo o mundo, uni-vos.” Vamos começar nossa batalha contra o “mundo bizarro” e por um mundo de paz e justiça.

E tenho dito!


Até a próxima...

ZUMBI DOS PALMARES

Angola, gongô, benguela

Monjolo, capinda, nina
Quiloa, rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados num carro de boi
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Angola, gongô, benguela
Monjôlo, capinda, nina
Quiloa, rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão branco
Sendo colhido por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
É senhor das demandas
Quando Zumbi chega,
Zumbi
é quem manda.
(Jorge Ben, A Tábua de Esmeraldas, 1972)

SALVE 20 DE NOVEMBRO - DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA!

SOBRE SENHORES & ESCRAVOS



Partindo da definição da palavra “escravo” do dicionário, temos:

es.cra.vo adj. e s.m. 1. Que ou aquele que está sujeito a um senhor, como propriedade dele. 2. Que ou aquele que está inteiramente sujeito a outrem, ou a alguma coisa.

Dicionário Aurélio, 4ª Edição, 2003.

Analisando o significado literal da palavra, fica clara a idéia de que a condição de escravidão pressupõe a existência de um escravizador, uma força que subjugue o indivíduo a ponto de não lhe restar opção, a não ser, submeter-se à sua vontade.

Sociedades em que a escravidão era a base de sustentação da classe mais privilegiada são quase regra geral na história da humanidade em todas as épocas e em todos os continentes, sendo que nas sociedades mais primitivas, os escravos eram em sua maior parte, prisioneiros de guerra. Foram usados ainda argumentos de diversas ordens para justificar a escravidão, como origem étnica, diferença cultural, casta, etc.

Na Europa, no início da Idade Média, a economia feudal modificou as relações entre servos e senhores para um tipo de “escravidão não-declarada”, onde o servo, apesar de ter certa autonomia, tinha total dependência para com o senhor feudal, a quem devia a maior parte da sua produção por utilizar-se da terra, tendo para sustento de sua família uma porcentagem desprezível, o que explica as condições de miséria extrema dos camponeses medievais (qualquer semelhança com o mundo de hoje não é mera coincidência).

A escravidão propriamente dita surgiu de novo nos países "civilizados" com a expansão européia, no fim do século XV, quando teve início o período das grandes navegações e descobertas. O Brasil foi o último país “civilizado” a abolir a escravidão oficialmente, o que ocorreu em 1888.

No entanto, a escravidão não foi abolida totalmente. Apenas criou-se uma nova modalidade de escravidão, com uma face mais humanista e ao mesmo tempo, mais cruel e tão criminosa quanto a outra, além de mais universal, uma vez que não faz distinção de raça, cor, etnia, casta ou cultura. Estamos nos referindo à sociedade capitalista.

À partir da expansão do mercantilismo mundo afora, surgiu a necessidade de produção em massa dos bens mais procurados e valorizados, principalmente nas grandes metrópoles. A produção em massa criou a necessidade de mão-de-obra, que, de preferência, se ocupasse exclusivamente desse trabalho, recebendo em troca um pagamento que, teoricamente, fosse garantir a sua sobrevivência, bem como a de sua família.

Até aí, a decisão de um camponês de abandonar sua terra e se tornar empregado de um dos grandes latifúndios rurais ou tentar a vida nas cidades, onde poderia trabalhar no comércio, na prestação de serviços ou na manufatura, cabia somente a ele próprio. No campo, em sua própria terra, ele tinha a liberdade de decidir o que plantar e o sistema de trabalho para sua produção, mas tinha também o risco de eventualmente, produzir aquém do necessário para a subsistência. Nas cidades e nos latifúndios tinha o conforto de um salário garantido. Fosse uma troca justa, o trabalho assalariado até seria uma boa saída para quem quisesse fugir dos rigores e incertezas da vida de camponês. Infelizmente, isso nunca foi verdade. Nas grandes propriedades rurais ou nas cidades, o ex-camponês tinha que se submeter à vontade das poderosas elites agrária, mercantil e posteriormente, a dos grandes industriais. Isso representava, regra geral, uma jornada de trabalho exaustiva, de até dez horas diárias (inclusive para mulheres e crianças) e uma remuneração muito abaixo do necessário para uma vida digna. Essa situação foi um pouco amenizada com uma série de conquistas de direitos trabalhistas ao longo dos séculos XIX e XX. Direitos esses que agora são postos em cheque pelo sistema de globalização dos mercados mundiais, pois segundo seus articuladores, a produção moderna, por ser mais ágil, exige uma legislação trabalhista mais flexível.

O sistema econômico neoliberal, que tem como base a economia de mercado e a livre iniciativa, ou seja, a redução do papel do Estado e da legislação nas questões econômicas, praticamente dita as regras das relações trabalhistas em nossa sociedade. Seus especialistas e teóricos justificam dizendo que é “o mercado de trabalho”, sem explicar que cada tendência desse mercado é matematicamente planejada pelos magos da economia mundial. Há muito menos fatores naturais nisso do que se alega.

Analisando as condições atuais de vida da parcela mais carente de nossa população, que representa 85,45% dos brasileiros, sendo que 27,15% estão entre aqueles que apresentam “muita dificuldade para chegar ao fim do mês com o rendimento monetário familiar”, enquanto apenas 14,54% estão entre os que têm “alguma facilidade”, com 0,72% representando os mais ricos (fonte: IBGE - http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/orcfam/default.asp?z=t&o=19&i=P), notamos que o abismo social entre as classes é assustador e materializa-se sob a forma dos mais diversos problemas enfrentados por nossa sociedade, entre eles, déficit habitacional, desemprego, mortalidade infantil, altas taxas de violência, populações marginalizadas, etc.

Quase todos os que justificam esses problemas como sendo culpa das diferenças sociais nem sabem do que estão falando, mas têm razão. É preciso portanto compreender os mecanismos sutis utilizados para perpetuar esses contrastes sociais e fazer com que pareçam fatos “naturais”.

Até que ponto nós, cidadãos brasileiros, somos escravizados?

Voltando à definição de escravo, o dicionário coloca também: “que ou aquele que está inteiramente sujeito a outrem, ou a alguma coisa.” Podemos dizer, então, que somos escravos porque estamos todos sujeitos a alguma coisa. Quer queira, quer não, todos estão de alguma forma sujeitos ao sistema econômico, inconscientemente obedecendo suas regras.

Quando consumidores, estamos sujeitos à estimulação artificial e psicológica das necessidades de consumo. Campanhas publicitárias, direcionadas às parcelas específicas da população, chegam aos limites da coerção. Afinal, a produção em massa visa o consumo em massa. Quando trabalhadores, estamos sujeitos à flexibilização da legislação trabalhista, que sempre tem como objetivo a revogação de garantias e vantagens do trabalhador em benefício dos grandes capitalistas, que aliás, são os maiores financiadores das campanhas políticas. Ou seja, o cidadão comum é utilizado como massa de manobra em quase todas as esferas de sua vida social: quando consome de acordo com os interesses do grande capital; quando elege, influenciado por campanhas milionárias, políticos que vão na verdade, defender os interesses do grande capital; e ainda quando busca a sobrevivência através do seu trabalho, já que a legislação trabalhista, proposta e aprovada por esses mesmos políticos, tem como base os interesses do grande capital.

Enfim, acaba ficando fácil entender porque o abismo social é interessante para quem está no topo, pois o que seria dos senhores sem seus escravos?


Ps: Este texto eu escrevi em Junho de 2007, saiu publicado no Coletivo Sabotagem. Mexendo nos meus alfarrábios o encontrei e achei interessante compartilhar com vocês. É um belo papo de boteco...

CHAPTER 9


Olá, companheiros... Estamos aqui para mais um post do Boteco!

Antes do assunto principal eu queria apenas dar um toque: nosso blog agora tem rss. É só dar uma olhada aí ao lado e lá estão os botões. É só você assinar as postagens ou os comentários (de preferência, os dois) e quando tiver alguma coisa nova por aqui, a postagem vai até você... uma mão na roda, não é?

Pois bem... vamos ao que interessa: Segue aí mais uma análise (ou crítica, ou resenha, como queiram...) de coisas que eu gosto e que recomendo aos freqüentadores do Boteco.
A vítima da vez é o Ed Motta e seu mais recente trabalho "Chapter 9".

Cheguei até este disco pelo Trama Virtual, pois ele está disponibilizado lá para download gratuito (não só o álbum, mas também as letras, ficha técnica, toda a arte do CD...), assim como outros discos de artistas que já sacaram que essa onda vale a pena...

Esse material já está comigo há dois meses. Esse foi o tempo necessário para que eu o digerisse a contento para poder comentar aqui.

Não conheço os trabalhos anteriores dessa fase mais madura do Ed Motta, mas o que ouvi no "Chapter 9" me agradou muito. Principalmente levando-se em conta que o E.M. cantou e tocou todos os instrumentos em todas as faixas, fez todos os arranjos e produziu o disco... Ufa!!!

É um disco pop, com pitadas que vão do soul ao rock, passando pelo reggae. Todas as músicas muito bem amarradas, arranjos precisos (principalmente os órgãos e pianos, dezenas deles...), a produção deixou o disco com uma sonoridade crua, que me lembra os anos 70. Gostaria de ouvir esse álbum em vinil...

O velho Ed, alías, está mandando muito bem em todos os instrumentos, com levadas muito criativas de baixo e bateria, guitarras bem sacadas, teclados criando o clima certo e, sua especialidade, belíssimo trabalho de voz.

Todas as composições são em inglês, as letras foram compostas por um tal de Robert Gallagher, com excessão de "The Man From The Oldest Building", composta por Cláudio Botelho.

O Boteco do Ganso recomenda. É baixar e deixar rolar...

Sempre respeitei muito o Ed Motta (apesar de achá-lo meio pretensioso no início) pela sua sacada de soul music em português que tomou de assalto nos anos 80 (acho) e era bem diferente do soul brasileiro dos anos 70. Agora ele está mostrando o seu amadurecimento natural como artista veterano e nos presenteou com esse ótimo trabalho.

E você? Está esperando o que para clicar no link e baixar o disco? Lembre-se que os álbuns ficam disponíveis por tempo determinado... vaí lá.

Alías, no último post eu deixei o link para o "Danç-Eh-Sá" do Tom Zé, mas logo depois vi que o disco não está mais disponível... I'm sorry! Pra não ficar mal com vocês, vou subir ele lá para o esnips e deixo o link aqui, falou? Aguardem.

Abraços e até a próxima.

INSPIRAÇÃO



Olha, gente, eu juro que as poucas postagens aqui não é por falta de interesse, não. É falta de tempo mesmo... Inspiração, graças a Deus, é algo que também não me falta. Essa semana alguém me perguntou: “De onde você tira as idéias para escrever no blog?” Repondi: “Do nada!” e logo em seguida corrigi: “De tudo!”
Sem falsa modéstia, não me considero um bom escritor (nem sei se sou um...), o que eu gosto é de deixar impressas as minhas observações, meus pitacos, minhas idéias, e sinto um incomensurável prazer quando alguém vem discutir, comentar ou mesmo meter o malho... não quero ser unânime e nem acho que tenho razão em tudo...
Bom! Chega de divagações e vamos ao prato principal, que aliás é o meu preferido: música.
Essa semana andei fuçando o 4 shered (valeu Paulinha!) e encontrei muita coisa interessante por lá. Por exemplo, o disco “Babylon By Gus Vol. 1 – O Ano do Macaco” do Gustavo Black Alien. Para mim, um dos grandes nomes do hip-hop brasileiro. Já tinha escutado esse disco muitas vezes, mas por puro descaso, ainda não o tinha na minha coleção. Agora ele já está bombando no meu mp3.
O Gustavo Black faz neste disco um som muito bem sacado e com produção primorosa. Rimas riquíssimas e temas completamente fora dos clichês do rap. Esse disco é de 2004 (ou mil novecentos e dois mil e quatro, como ele diz na introdução), mas é atualíssimo e ainda continua sendo o único disco solo do cara. Recomendo. Gostaria de saber por onde anda o Black Alien atualmente... quem souber, diz aí...
Outro achado foi também dois discos do Tom Zé: “Todos os Olhos” de 1973, (com aquela capa que incomoda muita gente...) e “Estudando o Samba”, de 75. Discos fundamentais do velho mestre da tropicália, ou não, como diria Caetano, por que para mim Tom Zé é atemporal, está acima de qualquer rótulo ou estereótipo. Não há nada igual. Meu velho brother Rabú dizia que existem pessoas que nascem na época errada, neste caso, Tom Zé deveria nascer uns três mil anos no futuro.
Falando no homem, me disseram que os alunos da Escola Municipal Damião Medeiros estão ensaiando um jogral sobre a cultura nordestina, e que eles vão dançar a música “Xique-xique” do Tom Zé, com direito a bexiguinha no dente e tudo... gostaria de ver isso. Parabéns as professoras pelo bom gosto na escolha.
Me desculpem, todos os meus cinco leitores, mas não estou deixando os links dos discos que falei. Em compensação, deixo o link do último disco do Tom Zé, Danç-eh-sá, que ainda pode ser baixado “de grátis” no Trama Virtual... Mais um obra genial desse cara, que infelizmente ainda é mais conhecido no exterior do que aqui no Brasil...
Pois, é. Hoje o papo foi curto. Continuo aqui acumulando inspiração para escrever. Fatos extraordinários é que não faltam. Afinal, a vida é extraordinária. Impolguemo-nos com o nascer do sol, com a chuva que cai, com o pássaro que voa. O importante é saber captar a poesia que há nas entrelinhas. Que Jah nos proteja e continue nos intuindo para o bem. E para fechar, só uma frase do Tom Zé: “Amanhã de manhã, quando a gente acordar, quero te dizer que a felicidade vai desabar sobre os homens”.
Até a próxima.
Obs: a imagem que abre o Post é o quadro "A Persistência da Memória", obra mais famosa do pintor espanhol Salvador Dalí (outro homem "à frente de seu tempo")

EU ME RENDO A MAIS UM MILAGROSO DIA!!!


Ôooopa!!! Tamo aí... uma semana sem postar nada, todo enrolado com os afazeres (e os prazeres, por que não?) da vida... mas é isso aí. Esse espaço não é para encher lingüiça (a trema caiu ou não? Portuguese teachers, help me! oO), mas sim para tratar de questões relevantes, ainda que a tal relevância seja vista apenas por mim... vamo aí...

Falando em relevância, há algo mais importante do que o próprio bem estar? Cheguei a essa conclusão e resolvi tomar algumas resoluções que visam o melhor para mim... são muitas, mas a que mais teve impacto sobre a minha qualidade de vida foi a seguinte:

Art. 4º da Lei Universal de Preservação do Bem Estar do Anderson:
Prágrafo Único: Fica determinado, a partir da data de assinatura da presente lei, que o Anderson se deslocará de casa para o trabalho, e vive-versa, preferencialmente utilizando o meio de transporte concedido a ele naturalmente pela graça de Deus, ou seja, seus pés. Não será mais admitida a utilização de transporte público de qualquer natureza tendo em vista o não compromisso no cumprimento dos horários pelas empresas de transporte público e o elevado número de passageiros compartilhando um mesmo veículo, o que gera várias situações de constrangimento. A utilização de transporte público só será admitida em condições especiais que deverão ser previamente analisadas pelo presidente da comissão de estudos sobre o bem estar do Anderson, o Sr. Anderson, que decidirá sobre a necessidade ou não da utilização de transporte público. Caso seja descumprida essa determinação, o infrator fica sujeito às seguintes penas:
1 - Não terá, nesse dia, a chance de observar o sol nascendo por trás do bosque de eucaliptos entre a Vila Americana e o Bairro Água Limpa;
2 - Não poderá cumprimentar seus amigos, alguns deles de infância, que também fazem o mesmo percurso, no mesmo horário;
3 - Não poderá observar e nem ouvir o canto das variadas espécies de pássaros que ainda sobrevivem na região, apesar da diminuição de seus habitats;
4 - Não terá oportunidade de refletir sobre a vida durante a caminhada, ou se preferir, de ouvir música no mp3 durante o percurso;
5 - Nesse dia, seu stress será maior e sua disposição para o trabalho será seriamente afetada após vários minutos no ponto, preocupado em chegar atrasado e mais alguns minutos feito sardinha em lata dentro do ônibus, sob um calor escaldante.
Essa lei entra em vigor em todo o universo a partir da data de publicação, revogadas as disposições em contrário.

Por incresça que parível, como diria meu amigo B. Negão, essa decisão, apesar de simples, teve um impacto extraordinário no meu bem estar. Hoje mesmo, enquanto vinha para o trabalho (graças a Deus meu trampo é relativamente perto de onde moro, 40 minutos de caminhada...) me senti muito bem, ouvindo música, observando o corre-corre das pessoas e dos carros, vendo o sol nascer... era como se eu estivesse desconectado daquilo tudo... como um transe saudável... uma disposição para viver... muito melhor do que ficar apertado no ônibus...
Acho que é isso! Já que não podemos mudar o todo (infelizmente o dinheiro ainda não sobrou para comprar aquela ilha no Caribe...), mudemos então as pequenas coisas, tudo o que for possível mudar, por menor que seja, e perceberemos um impacto bem maior em nosso dia-a-dia do que poderíamos supor.
Fica a dica...
Um abraço a todos.

NÃO TEMAS


Não temas, criança
tudo estará resolvido ao amanhecer
a saudade que sentes e nem sabes de quê
a dor que te afliges e te fazes sofrer
o gosto de morte, a dor de viver
terão se esvaído ao amanhecer

pois o amanhecer de um dia
com sua luz, com sua alegria
é o mais claro sinal de que Deus
não te abandonou
que Ele sempre te amou
e esteve contigo enquanto sofrias

há justiça no universo afinal
para cada homem e cada animal
a lei funciona de maneira igual
mesmo que lhe chegue o dia fatal

Não temas, daí graças ao Pai
pois quando a felicidade se contrai
devemos lembrar de sua lei
que subjuga tanto o mendigo quanto o rei
e diz que por mais escuro que esteja o dia
ninguém paga mais do que devia

Olha o dia, criança! Glorioso e cheio de luz!
Já foi treva, pareceu a morte com seu capuz
assim é o caminho que te conduz
por mais pesada que pareça a cruz
és digna dela, a ela fazes jus
assim ensinou o Mestre Jesus.

Para Paulinha
Anderson

ZOMBEATLES


Esse post eu copiei do Gizmodo Brasil, mas não podia deixar de compartilhar com meus amigos de boteco! (acredito que todos aqui sejam fãs de Beatles e de zumbis, ou não?)

Eu não sei exatamente como o Zombeatles surgiu, mas eis minha teoria: um grupo de amigos desempregados bastante criativos, depois de assistir A Morte do Demônio, tomar 4 garrafas de vodca e ouvir Sgt. Pepper ao contrário decidiu criar uma banda de rock. O nome já justificaria tudo. Algum deles deveria ter uma câmera à mão (esse é o tipo de idéia que, se não for registrada no momento, se perde). Pouco depois o clipe de A Hard Day's Night of The Living Dead foi para o Youtube, teve mais de 1 milhão de visitantes e voilà! Um novo grupo de webcelebridades foi formado, com o diferencial de acabar todas as frases com Braaaaaains (que no português vira o simpático mioooolos!) O mais genial? Eles ganharam um documentário, ou melhor, um mockumentary (docudrama?) intitulado All you need is Brains - que acabou de ser filmado.

Jaw Lennon, Pall IcKartney, George Harryson e Dingo Scarr são alter-egos dos integrantes da banda de Madison Winsconsin (sim, um lugar muito pequeno dos EUA) chamada The Gomers, que também não é nada demais. Depois do clipe, feito um ano atrás, o Zombeatles chamou a atenção da comunidade adoradora de zumbis - muita gente, acredite. Doug Gordon, um produtor de TV achou que seria legal juntar o "Fab Gore" com o seu personagem Angus Macabre, microcelebridade de internet que interpreta o "melhor comediante zumbi escocês". Fundador da entidade de proteção aos zumbis "Zombies are people too (at least we used to be)" [algo como "Zumbis são gente, também (pelo menos constumavam ser), nota do Ganso], Gordon juntou um monte de gente vestida de zumbi no último fim de semana em um pequeno clube de Madison. O Zombeatles interpretou clássicos como "I want to eat your hand" e a platéia foi ao delírio antes de ser devorada pela banda. O diretor espera ter o filme pronto para estrear no festival de filmes de horror de Madison, no dia 25.
Agora diz: coisas assim não te encorajam a ser estrela da internet?


PRATA DA CASA



Pois é! Tanta gente critica a cultura da cidade, mas sem conhecimento de causa... Quem tá inserido no contexto sabe muito bem que VR também tem fera. Neguinho que arregaça a manga e não fica jogando conversa fora: faz e faz bem feito!
Tem muita gente boa por aqui e já passou da hora dos críticos de plantão saírem um pouco da frente da TV de plasma e darem um rolê pela cidade. Uma dica? Dêem uma passadinha no ECFA em qualquer fim de semana desses...
Por falar em feras, tava ouvindo agora, na hora do almoço, o CD “Só Escuta o Som” do Mateus Pingüim. Não é porque o cara é de Volta Redonda não, mas é um dos melhores discos de hip-hop já gravados nesse país. Super bem produzido, letras inteligentes, sacadas geniais, influência do ragga e rap old school. Música de primeira qualidade...
Aliás, o Pingüim é um parceirão dos tempos do GUSA. Ele produziu nosso CD-demo, cantou e tocou guitarra em algumas faixas, o moleque é puro talento... Estou ansioso para por as mãos no disco recém-lançado dele: “É Só Querer”. Rolou lançamento no SESC de Barra Mansa e eu não pude ir!!!! Putzgrila! Pecado mortal...
Com o disco anterior, o Pingüim fez bastante sucesso por aí, rodou o sul do Brasil, São Paulo, além, é claro, do RJ. Uma música do disco, “Coronel Cabelim”, virou até trilha do filme “Coronel Cabelinho Vs Grajaú Soldiaz” da Pepa Filmes...
Depois ainda vem uns e outros me dizer que não tem nada que preste em Volta Redonda... O Pingüim não mora aqui há um tempinho, mas nasceu aqui, pô! É prata da casa...
A Prefeitura bem que podia contratar o cara para uma apresentação na Feira da Primavera... ô Secretaria de Cultura, acorda aí...
Aos meus amigos críticos de música, recomendo aproveitar os links do texto acima e conhecer um pouco o trabalho do Mateus Pingüim, depois voltem para me dizer o que acharam...
Abraço e bom uiquendi...

ILUMINEMOS PEQUIM

Todo esse clima de eleição, política, discussões sobre ética, etc, me fizeram lembrar da saudosa revista “Chiclete Com Banana” do Angeli, lembram? Quem achou que tem alguma relação com o grupo de axé-music (arghh!!!) enganou-se redondamente... A Chiclete era uma revista de humor anárquico que circulou lá pelos idos dos anos 80... Bem, a hístória dela fica para outro post... prometo uma entrevista com o próprio Angeli... aguardem! Por hora, vou publicar um conto da série que fez muito sucesso naquela revista: “Contos Corruptos”. Este conto foi escrito pelo chinês Ka-Lao-Yeh e é uma pérola do humor político. Como já disse o filósofo: existem coisas que não mudam jamais...
ILUMINEMOS PEQUIM!

Um dia, não há ainda muitos anos, enquanto o gélido vento do norte arremetia contra as janelas do mais fechado palácio da Cidade Proibida, assobiando por entre as decorações de lacre e as pilastras de mármore, e fazendo tinir as sinetas de porcelana do telhado, toda a corte se reuniu no salão das audiências imperiais.
O vento que soprava de fora não podia penetrar no interior da “Grande Corte de Esplendor”, porque havia, estendidos por todos os cantos, pesados cortinados escarlates e dourados; a fumaça dos trípodes de bronze subia quase que verticalmente, misturando-se no alto com a fumaça dos cinqüenta braseiros de porcelana.
A sala estava repleta de dignitários: mandchus de rosto ufano e forte, chins de rabicho comprido, e, aos lados de um cortinado amarelo, os guerreiros mandchus da primeira das oito Bandeiras, com suas armaduras lavradas.
De improviso o Filho do Céu apareceu, e todos caíram de joelhos, batendo a fronte no chão, enquanto pela sala se ouvia murmurar: “Celestial Presença”, “Augusta Sublimidade”, “Eterna Serenidade”.
O Imperador sentou-se no trono, e assim falou:
A nossos ouvidos chegou a voz de que as grandes cidades habitadas pelos bárbaros de pele branca, quando a noite desenrola das alturas do céu os véus da sombra, são iluminadas por milhares de luzes em cada rua e em cada praça.
Em seguida chamou:
Ta-Ti-Po!
O Camareiro-mor, ouvindo seu nome, apressadamente se ajoelhou no primeiro degrau do trono, fitando a sua plaquinha de jade, porque era pecado olhar no rosto do Filho do Céu.
Ta-Ti-Po, tomai do nosso Tesouro um milhão de taéis, e que as ruas de Pequim sejam iluminadas como pela luz do sol.
A Cidade será iluminada — respondeu o Camareiro-mor.
Executado o “kotow”, Ta-Ti-Po abandonou a audiência imperial. Na antecâmara vestiu o traje de arminho e seda e, quase não fazendo caso das reverências com que o obsequiavam, dirigiu-se ao escritório. Ali o esperava o seu ajudante.
Chame o Grande Eunuco — ordenou.
Tomando o cachimbo de água, pôs-se a fumar. À segunda tragada, uma montanha de carne assomou na sala: era o Grande Chefe dos Eunucos.
Saiba, Grande Chefe dos Eunucos, que o Filho do Céu (que reine por mil anos), pela alta bondade de sua alma, me entregou quinhentos mil taéis a fim de que as ruas de Pequim resplandeçam à noite como de dia. Que as ruas da Cidade sejam portanto imediatamente iluminadas.
Ouvir é obedecer! — respondeu o outro, inclinando-se e cumprimentando, conforme o ritual.
O Grande Eunuco atravessou a Cidade Proibida, voltando a seu pavilhão, e ordenou ao secretário que chamasse o Governador Militar. Esperou longamente. Tao-Tai, o Governador Militar, morava na Cidade Externa, e era preciso percorrer várias ruas e fazer abrir várias portas, antes que o valente e poderoso mandchu pudesse chegar à sua presença.
O Augusto Imperador — disse o Grande Eunuco — em sua magnanimidade, estabeleceu duzentos e cinqüenta mil taéis para que as ruas de Pequim sejam iluminadas à noite. Providencie!
O Filho do Céu só concebe o que é justo. Nossa Cidade será a maior do mundo. Apresso-me a executar a vontade do Filho do Céu — respondeu o Governador Militar, que voltou imediatamente a seu yamen e mandou chamar o Chefe dos Magistrados.
Quando este, ainda ofegante pela longa corrida, foi admitido à sua presença, disse-lhe:
Tenho o prazer e a honra de informar Vossa Excelência que a Sublime Serenidade, o Filho do Céu, resolveu gastar cem mil taéis para que Pequim seja iluminada à noite. Vossa Excelência providencie.
Obedeço incontinenti — foi a resposta.
E subindo no palanquim, o Chefe dos Magistrados fez-se levar ao escritório dos Vigilantes da Cidade. Entrou. Sem responder sequer às saudações dos inferiores, disse ao Chefe dos Vigilantes:
O Filho do Céu deu-me cinqüenta mil taéis para que Pequim seja iluminada à noite. Providencie até amanhã ou receie o seu rigor!
Grande foi a surpresa da população de Pequim quando deparou, na manhã seguinte, com este manifesto, afixado por todos os cantos da cidade:
A Serena Sublimidade, o Filho do Céu, o Augusto Imperador, Soberano do Império do Meio, Senhor dos Países Bárbaros, Vassalos e Tributários, decretou que todas as ruas e praças de Pequim sejam e permaneçam iluminadas desde a primeira hora da noite até o romper da aurora.
Portanto todo chefe de família, todo artesão, todo mercador providenciará para que seja aceso um lampião fora da porta externa de sua casa, de sua oficina, de sua loja.
Perderá a vida quem transgredir a ordem, que será cumprida com o máximo rigor”.
E foi assim que o Imperador, na noite seguinte, olhando pelas janelas do sétimo andar do pagode de porcelana construído sobre a colina artificial do jardim imperial, pôde ver a cidade iluminada, como por milhões e milhões de vagalumes diminutos a devorar a vasta escuridão, mas não soube jamais de que forma tinha sido gasto o milhão de taéis que orçara para aquele fim.

Mercado Livre

"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para abrir um bar."
W. H. Auden