ECOS DO ÃO

Evandro João da Silva
1967-2009

Vivemos uma época em que pessoas que trabalham por mudanças sociais nesse país são vítimas dos dois principais males que combatem: a criminalidade e o despreparo da polícia. Não há mais nada que eu possa dizer que vá potencializar a nossa revolta com a morte do coordenador social do AfroReggae. Nesse caso os fatos falam por si mesmos. A imagem que para mim melhor ilustrou o momento foi a que saiu nos jornais no dia seguinte ao enterro de Evandro: Uma menina negra, aluna de um dos projetos da ONG, chora enquanto toca seu violino.Nos cabe, tão somente, a reflexão. Nessa época em que cada um de nós é chamado a responder por isso. Expliquemos então aos nossos filhos como pudemos permitir que a sociedade chegasse a esse ponto... Temos uma Conferência de Cultura nos próximos dias. Hora mais do que propícia para pararmos para refletir.
O tempo todo em que acompanhei as notícias desse crime, uma música não me saiu da cabeça. Reproduzo então a letra abaixo, que é também um belo poema do Lenine. Após a leitura, vamos dedicar alguns minutos à reflexão, em respeito à memória de Evandro.

ECOS DO ÃO

Rebenta na febem rebelião
Um vem com um refém e um facão
A mãe aflita grita logo: não!
E gruda as mãos na grade do portão
Aqui no caos total do cu do mundo cão
Tal a pobreza, tal a podridão
Que assim nosso destino e direção
São um enigma, uma interrogação
E se nos cabe apenas decepção
Colapso, lapso, rapto, corrupção?
E mais desgraça, mais degradação?
Concentração, má distribuição?

Então a nossa contribuição
Não é senão canção, consolação?
Não haverá então mais solução?
Não, não, não, não, não...

Pra descender a densa dimensão
Da mágoa imensa e tão somente então
Passar além da dor, da condição
De inferno e céu, nossa contradição
Nós temos que fazer com precisão
Entre projeto e sonho a distinção
Para sonhar enfim sem ilusão
O sonho luminoso da razão

E se nos cabe só humilhação
Impossibilidade de ascensão
Um sentimento de desilusão
E fantasias de compensação?
E é só ruína tudo em construção?
E a vasta selva só devastação?
Não haverá então mais salvação?
Não, não, não, não, não...

Porque não somos só intuição
Nem só pé de chinelo, pé no chão
Nós temos violência e perversão
Mas temos o talento e a invenção
Desejos de beleza em profusão
E idéias na cabeça coração
A singeleza e a sofisticação
O choro, a bossa, o samba e o violão

Mas se nós temos planos, e eles são
O fim da fome e da difamação
Por que não pô-los logo em ação?
Tal seja agora a inauguração
Da nova nossa civilização
Tão singular igual ao nosso ão
E sejam belos, livres, luminosos
Os nosso sonhos de nação.

Lenine - Falange Canibal - 2003

UM POST, VÁRIOS ASSUNTOS

Salve, amigos dessa nobre confraria!
Esses dias foram bem movimentados aqui por essas bandas. Por isso o Boteco hoje vem com um post diferente do estilo habitual do nosso blog. Vamos dar uma passada nos principais fatos da última semana para deixar vocês, caros boêmios, bem informados:

A ARCA DE NOÉ

Na semana da criança, a
Fundação CSN apresentou o espetáculo ARCA DE NOÉ, de Vinícius de Moraes, com a Orquestra Sinfônica Jovem da Fundação CSN e grande elenco de atores e dançarinos, além da participação de cantores conhecidos aqui da nossa cidade. A apresentação foi no Cine 9 de Abril, nos dias 14 e 15 de outubro às 15h e 20h e o ingresso podia ser trocado antes por um quilo de alimento (arroz, feijão ou macarrão).
Foi um lindo e emocionante espetáculo, que mostrou mais uma vez a competência técnica de todos os envolvidos nos projetos da FCSN. Como não poderia deixar de ser, houve um porém: o som dos microfones, principalmente dos atores, deixou muito a desejar, com vários ruídos e falhas inadimissíveis em um show envolvendo orquestra. Fica então a crítica construtiva do Boteco do Ganso para que esse detalhe seja observado nos próximos eventos. Fora isso, toda a equipe da FCSN, principalmente músicos, atores e dançarinos recebe os parabéns desse Boteco.

CANTOS DE EUCLIDES

O espetáculo
"Cantos de Euclides" foi apresentado na última terça feira às 11 horas da manhã, nas Ruas da Vila Santa Cecília. Aproveitei minha hora do almoço e fui conferir... A peça foi encenada por 30 artistas, que homenagearam os 100 anos da morte de Euclides da Cunha - autor de "Os Sertões".
A apresentação foi iniciada com uma grande roda de maculelê no Teatro Gacemss II, e seguiu pelas ruas, ao som de maracatu, samba de roda, baião, moda de viola e ciranda até a Praça Brasil, contando frases da vida de Euclides como militar, engenheiro, arquiteto, jornalista e escritor.
O espetáculo - que estreou este ano na Flip (Festa Literária de Paraty) foi realizado pelo
"Coletivo Teatral Sala Preta" em parceria com o Espaço Cultura Francisco de Assis França (ECFA). A obra integra o Café Literário que faz parte da Feira de Ciência, Tecnologia e Cultura promovida pela Universidade Federal Fluminense (UFF) que vai até o dia 24.
A história, levada para a linguagem teatral pelos atores Danilo Nardelli, Bianco Marques e Rafael Crooz, é uma adaptação do livro
"Quatro Cantos de Euclides", do autor barramansense, Thiago Cascabulho.
Foi uma festa muito bonita, com uma grande roda de ciranda na Praça Brasil, com a participação animada do público e um batuque que terminou no pátio da UFF. As fotos são de autoria desse vosso escriba. Parabéns aos organizadores da Feira e aos artistas envolvidos. Nota 10!

FÓRUM MUNICIPAL DE CULTURADeu no Blog do Giovani Miguez (que você lê aqui) que o Secretário Municipal de Cultura divulgou em seu Twitter a realização do Fórum Municipal de Cultura, nos próximos dias 30 e 31 de outubro, na Câmara Municipal. Importante momento para que todos os envolvidos com a cultura em nossa cidade levem suas propostas e opiniões para que Volta Redonda possa consolidar um documento que contenha a opinião de todos. Isso é democracia. Para maiores informações sobre as conferências de cultura e para ter acesso ao documento base, vá ao site do Ministério da Cultura clicando aqui.

LOS BROÑAS - LAST SESSIONS
A capa a cima é do histórico disco
"Last Sessions" da Banda Los Broñas (da qual esse blogueiro teve a honra de ser vocalista e pagador de micos mor) que agitou o underground da região no início dos anos 90. Leia o texto da contracapa do disco, reproduzido a baixo, e entenda:

"Last Sessions" é um dos últimos registros (senão o último) do Los Broñas e foi encontrado dentro de um baú no porão da casa de um dos integrantes. Nesta gravação rara, a qualidade aqui apresentada não é lá grandes coisas e erros podem ser percebidos, mas com certeza, este é o registro que mostra a banda mais rápida e com mais energia. A banda, que sempre teve o sexo, a escatologia e a violência presentes em suas letras, apresenta 10 músicas com influências de rockabilly, psychobilly e flerta com o punk-rock, o hardcore e até o hip-hop, sempre com o humor que lhes era peculiar. Destaques para "A Mulher Que Se Disputa" escrita por Glauco Mattoso e cedida para a banda e "Coffin Joe" escrita em homenagem ao cineasta José Mojica Marins, criador do personagem Zé do Caixão.

Esse CD será disponibilizado para download gratuito através do site Trama Virtual. Em breve divulgarei aqui o link e informações mais completas... Aguardem!

BOTECO DO GANSO NO BLOG DO SÉRGIO BOECHAT!Esse humilde estabelecimento teve a honra de ser citado no Blog do Sérgio Boechat, um dos mais conhecidos e prestigiados da nossa região. Eu que sou leitor (e assinante dos feeds) do blog me senti muito lisongeado com as palavras do Boechat a nosso respeito. Vejam:

UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA! 21/10/09
Um leitor do meu Blog, entre os milhares que me dão o prazer de ler e comentar as minhas Notas, fêz um comentário informando que realmente houve uma programação especial para as crianças no Cine 9 de Abril, no dia 12 de outubro. Na minha Nota eu registrei uma reclamação de uma mãe revoltada que não achou nenhuma programação durante o dia e, provavelmente, não ficou sabendo dessa programação referida pelo Anderson, do Blog Boteco do Ganso. Para fazer justiça ao Governo Municipal e à Secretaria de Cultura, republico o que está no Boteco do Ganso, embora continue achando que é muito pouco para uma cidade da grandeza de Volta Redonda. Deveria ter tido uma programação que se estendesse por todo o dia, nos principais bairros da cidade, no Zoológico, no Horto e que fosse encerrada com esse Show, que deve ter sido realmente muito bom! Vou visitar sempre o Boteco do Ganso. Gostei do Blog e gostei do Blogueiro. Um grande abraço, Anderson!

O Boechat mostrou que é um blogueiro dos bons, pois como voces notaram, assim como o Boteco, faz questão de ser imparcial nos seus comentários. Ele reproduziu todo o nosso post
sobre o show do Grupo Zéperê. É isso aí amigo. Seja muito bem vindo ao nosso Boteco e obrigado por suas palavras. Aí vai o link para o post original, além de já estar disponível aí do lado no nosso blogroll.

Garção!!! Uma rodada para todo mundo! E hoje é por conta da casa!


UPDATE: Fomos citados também no Blog do meu grande amigo Fábio, o PALAVRA NÁUFRAGA. Bela surpresa o comentário elogioso do cara sobre o nosso Boteco. Visitem-no!
Fábio, bem vindo a confraria. Vai pro Blogroll também!


Garção! Mais uma pra galera!

MÚSICA ELETRÔNICA

Estava já há um bom tempo com vontade de escrever um post sobre música eletrônica. Para conseguir a devida inspiração, resolvi que passaria uma semana inteira só escutando M.E. em meu mp3... e assim foi. Uma semana inteira só ouvindo Nine Inch Nails, Prodigy, Crystal Method, Daft Punk, Moby, Goldie, Front 242, Chemical Brothers, Asian Dub Fundation, Björk (maravilhosa), DJ Marky, Suba e Kraftwerk. Só trabalhos que eu acho interessantes, do ponto de vista musical. É claro que às vezes o "tuntz-tuntz" de algumas músicas cansa um pouco o ouvido, por isso, para quebrar um pouco o ritmo, acrescentei ao meu setlist alguma coisa de Dub (Sly e Robbie) e um disco do Outcast.
Tem bastante tempo que sou fã de M.E.. Cheguei até ela através das bandas que misturavam Rock industrial e eletrônico, tipo Ministry e Nine Inch Nails. Claro que já conhecia os clássicos, tipo Kraftwerk e Front 242 e alguma coisa da Eletronic Body Music desde os anos 80, mas só fui começar a compreender o que ouvia muito mais tarde. Nessa época, bandas como Pet Shop Boys, Ereasure, Technotronic e Depeche Mode me irritavam bastante. Achava interessante alguma coisa do New Order, mas não era fã. Criticava muito essa coisa do Tecno-Pop e não considerava seus artistas músicos de verdade, apenas programadores de computador...
Essa idéia começou a mudar quando ouvi Ministry. Só aí começei a sacar que dava para fazer boa música usando a tecnologia, afinal... depois veio Nine Inch Nails, mas o meu batismo na música eletrônica propriamente dita veio com o disco The Prodigy Experience de 1992. Aí sim me convenci de que não importam os instrumentos e sim as sensações que a música consegue causar no seu público. Liam Howlett era apenas um cara franzino atrás de uma montanha de teclados e o Prodigy se resumia a isso e mais alguns malucos dançando e cantando rap, mas eu achei muito bom. Talvez porque nessa época já estava escutando coisas mais elaboradas e tinha condições de compreender as nuances melódicas e a complexidade rítmica daquela doidera.
A partir daí comecei a querer conhecer mais e mais da música eletrônica, escutei de novo os discos do Kraftwerk e descobri alguns ótimos trabalhos brasileiros, tipo AD, Flanger, Marky, Patife, o Suba (que não era exatamente brasileiro), entre outros que não me recordo agora... E daí veio também a minha tese de que a música eletrônica tem um componente psicológico, capaz de causar nos ouvintes uma sensação hipnótica...
Bem, vamos dar uma passada na história da M.E. e voltamos a esse tema depois:
A idéia de se fazer música usando instrumentos capazes de gerar som sem recursos acústicos, ou seja, através da eletrônica, surgiu em 1850, mas foi em 1897 a criação do primeiro instrumento musical eletroacústico: O dinamofone ou tel
earmônio, criado por Thaddeus Cahill. A máquina consistia num dínamo elétrico, associado a indutores eletromagnéticos, capaz de produzir diferentes frequências sonoras. Estes sinais eram comandados por um teclado e um painel de controles e difundidos pela linha telefônica (!), cujos terminais estavam equipados com amplificadores acústicos colocados em locais públicos. Gostaria de ver de perto uma parada dessas!
A partir daí a tecnologia de instrumentos eletrônicos foi se desenvolvendo, passando pelo teremin e pela invenção dos órgãos eletrônicos até a criação dos sistemas de computadores especializados em fazer música. Até aí a música eletrônica era uma ramificação da música clássica, e estava ligada a maestros como Stockhausen (que compôs uma sinfonia para ser executada com orquestra e quatro helicopteros), Pierre Boulez, entre outros, mas com a popularização da tecnologia, ela foi adotada pela cultura popular, isso por volta da década de 60.
A partir daí surgiram diversas vertentes de música eletrônica, além da utilização de instrumentos eletrônicos em discos de bandas como Beatles, Beach Boys, Emerson, Lake & Palmer, etc.
Vamos às principais vertentes de música eletrônica que surgiram então: Industrial Music, Ambient Music, Breakbeat (decada de 70), Downtempo (raízes na decada de 70, mais evidenciado na decada de 90), Dance Music, House Music, Electro, Tecno Pop (década de 80), Techno, Trance, Drum and Bass ou jungle (década de 90). É claro que dentro de cada vertente existem dezenas de ramificações e alguns grupos apresentam trabalhos que se enquadram em várias vertentes, mas esses rótulos são úteis para analisar as influências e avaliar a evolução da música eletrônica. Quanto ao Hip-Hop e ao Dub, apesar de serem enquadrados dentro do Breakbeat e do Downtempo, pois são eletrônicos, para mim estão mais como ramificações da Soul Music e do Reggae, respectivamente. Para saber mais, visite o verbete da Wikipedia, de onde eu tirei as informações para esse post.
Voltando a minha análise pessoal, assim que conheci de verdade a música eletrônica, percebi que ela era capaz de ativar na mente certas sensações que dificilmente se conseguia com a música convencional, talvez bandas como os Beatles e Jethro Tull, conseguissem, mas a M.E. era como uma overdose de informação matematicamente elaborada para o cérebro, capaz de ativar estados alterados de consciência. Sei que muitos de vocês estão pensando, mas isso não tem nada haver com drogas. Muita gente usa maconha, lsd, ecstasy, etc. para "sentir" a música, mas dá para fazer uma viagem drug-free com a música eletrônica, desde que o ambiente seja propício.
Estranhamente, apesar de gostar de M.E. nunca fui grande frequentador de danceterias. Pra dizer a verdade, na época em que eu frequentei o que rolava nesses lugares era Rock e não M.E. e as ditas Raves que rolam por aí muitas vezes apresentam um tipo de música equivocada e muito aquém do meu gosto. Quem souber de alguma Rave de verdade rolando por essas bandas, por favor, me avise.
Esse foi o meu post sobre música eletronica. Espero não ter sido muito didático (ou chato mesmo) e aguardo a opinião de vocês nos comentários.

Até breve.

Obs.: Na imagem, a "mesinha" de som utilizada por Liam Howlett na gravação de Always Outnumbered, Never Outgunned de 2004.

ZÉPERÊ

Qual o programa ideal para o dia das crianças? Boa pergunta... Aqui em V.R. City as opções não são muitas: tomar sorvete no shopping, passear no zoológico e... acho que só... Puxa! Bem que podia ter alguma opção que juntasse diversão e cultura... E teve!
Pois é, amigos de boteco. Na maior parte das vezes eu estou aqui criticando, puxando a orelha e pedindo providências, mas às vezes também venho para elogiar. Uma rodada por minha conta para o pessoal do Grupo Zéperê e da Secretaria de Cultura, por favor!
Nesse 12 de outubro aconteceu no Cine 9 de abril um espetáculo dedicado e feito exclusivamente para as crianças, juntando o universo infantil das cantigas de roda (que tem raízes profundas no melhor da cultura popular do melhor país do mundo) com os ritmos mais tradicionais e bonitos que compõem a riqueza musical do nosso Brasil: o show Cantando e Brincando de Roda do Grupo Zéperê.
Desde o inicio do mês eu tenho ouvido falar do show na escola do meu filho. Deveríamos trocar o ingresso por um litro de leite (o show foi uma edição especial do projeto Cultura Para Todos, do qual já falei aqui). O cartaz que vi no colégio já despertou a minha curiosidade, mas nunca tinha ouvido falar do grupo. Esperava coisa boa, é claro, mas não esperava tanto!
Trocamos os ingressos e lá fomos nós, o Gabriel, o Dudu (meu outro filho do coração), a Paulinha e eu, para ver qual era... Lá encontramos meu irmão e minha cunhada, com suas filhas: a Carla e a Mariana. A festa estava completa.
Aguardamos um pouco na entrada, com muitas crianças lindas e animadas, com seus pais, tios e avós e, logo que entramos, a primeira surpresa: a Secretaria de Cultura tinha preparado um "marmitex" que foi entregue a cada criança, mas não era farofa com macarrão e frango como alguns brincaram na fila... dentro tinha bala, pirulito, doce, paçoquinha e um CD do Grupo Zéperê! Legal! A molecada se amarrou...
O palco já estava montado com os instrumentos do Zéperê e o Gabriel e eu já ficamos empolgados: três sets de percussão! Ia ter batuque à vontade...
O show principal foi precedido por uma apresentação da cantora Gesilaine, menina prodígio aqui de Volta Redonda, com uma belíssima voz, boa técnica e uma grande presença de palco. Todas as crianças cantaram junto...
Após pequeno intervalo, eis que surge no palco o pessoal do Zéperê: uma turma jovem e simpática, com um figurino simples e bonito... e qual não foi a minha surpresa ao perceber que era gente daqui. Artistas da cidade fazendo um trabalho bonito, dinâmico e bem produzido... entre eles minha querida amiga Tilinha... puro talento!
A formação do grupo era: sopros (flauta, sax), teclado e sanfona, violão e bandolim, baixo, a percussão e um quarteto de cordas que emocionou o público. Todos os músicos também cantavam e demonstravam muito entrosamento no palco. Pena eu não ter o nome de todos... o repertório? O mais popular entre as cantigas de roda, conhecidas de toda criança brasileira (principalmente se for aluno das escolas municipais, que têm um trabalho muito bom com esse tema). O grupo Zéperê trabalhou belíssimos e precisos arranjos para essas cantigas, misturando instrumentos tradicionais da nossa cultura como zabumba, alfaia, surdo e caixa, com os instrumentos clássicos. O tipo de coisa que todo músico que vê pensa: "Por que eu não fiz isso antes?". Brincadeira! A gente sabe que não é pra qualquer um. Tem que ter conhecimento de causa e fazer com muito amor. Os músicos do grupo tinham ótimas dinâmica no palco e interação com as crianças da platéia. Nossos filhos pulavam e se agitavam na cadeira, comiam doce e pipoca e cantavam juntos todas as músicas. Um momento mágico para os pequenos no dia que é dedicado a eles. O cinema estava cheio de crianças felizes e pais emocionados. A diversão durou cerca de uma hora e meia.
Registro aqui, em nome do Boteco, meus agradecimentos ao Grupo Zéperê e à Secretaria de Cultura. Espero que mais eventos como esse aconteçam. O CD ainda será devidamente degustado junto com as crianças, mas esse show fez de ontem um 12 de outubro inesquecível. Vida longa ao Zéperê!
Para quem quer conhecer mais, aí vai o site do grupo, onde se pode ouvir as músicas do CD: www.zepere.com.br.
Se mais algum frequentador do nosso boteco esteve lá, por favor, registre aí nos comentários.
Um abraço a todos e até mais!

PS. Nosso blog completou um ano de atividade no último dia 5 de setembro. Para comemorar (com um certo atraso...) estreamos essa semana o novo layout do Boteco do Ganso. Espero que gostem.

Um abraço.

A TIRANIA DAS MARCAS EM UM PLANETA VENDIDO

Estou lendo um livro muito interessante. Na verdade, começei a lê-lo, mas o que vi ali já é o suficiente para gerar um bom papo aqui no Boteco. O Livro se chama "Sem Logo - A Tirania das Marcas em Um Planeta Vendido", da Jornalista canadense Naomi Klein.
Ela fez uma extensa pesquisa sobre a influência das marcas comerciais no dia-a-dia das pessoas nesse nosso mundo capitalista e chega a conclusões absolutamente assustadoras quanto a influência do branding das grandes empresas em nossos hábitos.
A estimulação artificial das necessidades de consumo não é novidade e foi um dos principais ingredientes do sucesso do modo de produção capitalista: fazer uma parcela da população que antes nem sabia que seu produto existia, de uma hora para outra, ser incapaz de viver sem ele.
Mas o alerta que N. Klein nos faz em seu livro é que essa influência vai muito além do que meramente chamamos de hábitos de consumo. Empresas estão construindo personalidades e modos de vida padronizados nos quais as pessoas precisam somente se encaixar para serem bem aceitas em seu meio.
Segundo a autora, as empresas estão conseguindo contaminar com seu branding a cultura de um modo geral, a arte, os esportes, as convicções pessoais, ou seja, não temos praticamente opção de escolha por nada. Eles escolhem por nós... As grandes marcas deixaram de ser apenas criadoras e vendedoras de produtos para tornarem-se objetos de culto e vendedoras de estilos de vida.
Lembrei na hora dos casulos sugadores de energia de Matrix...
Naomi Klein, através de exemplos contundentes, nos mostra como as grandes empresas dominaram o cinema, a televisão, a música, os esportes, a moda, enfim, quase todos os aspectos da vida moderna. Um dos maiores exemplos de brandig agressivo citado no livro é o da empresa Nike, que em determinado momento resolveu criar super astros do esporte, dando a seus atletas patrocinados superpoderes em seus comerciais. Criou assim uma legião de "devotos" da marca, capazes de tatuarem na pele o logo da empresa que patrocina seus super heróis.
Vejam bem, amigos: O objetivo do livro não é demonizar a propaganda e o marketing corporativo, mas expor os abusos que podem ocorrer quando não se define bem o que é o produto e o que é a cultura em torno da marca. A autora em certo momento afirma que o produto, aliás, deixou de ser a principal razão dessas empresas, sendo que seu negócio agora é vender a marca.
Bom, chega de minhas impressões capengas. Vão logo ler o livro que disponibilizei em PDF aqui.

Enquanto isso eu vou vestir minha calça Levis, meus tênis Nike, minha camisa Lacoste, botar meus óculos Oakley, um perfume Hugo Boss e sair para comer um Big Mac e beber uma Diet Coke...
Até mais...

UPDATE:
Vejam aqui e aqui no que transformaram o Che Guevara. O capitalismo não perdoa...

Mercado Livre

"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para abrir um bar."
W. H. Auden