Vivemos uma época em que pessoas que trabalham por mudanças sociais nesse país são vítimas dos dois principais males que combatem: a criminalidade e o despreparo da polícia. Não há mais nada que eu possa dizer que vá potencializar a nossa revolta com a morte do coordenador social do AfroReggae. Nesse caso os fatos falam por si mesmos. A imagem que para mim melhor ilustrou o momento foi a que saiu nos jornais no dia seguinte ao enterro de Evandro: Uma menina negra, aluna de um dos projetos da ONG, chora enquanto toca seu violino.
Nos cabe, tão somente, a reflexão. Nessa época em que cada um de nós é chamado a responder por isso. Expliquemos então aos nossos filhos como pudemos permitir que a sociedade chegasse a esse ponto... Temos uma Conferência de Cultura nos próximos dias. Hora mais do que propícia para pararmos para refletir.
O tempo todo em que acompanhei as notícias desse crime, uma música não me saiu da cabeça. Reproduzo então a letra abaixo, que é também um belo poema do Lenine. Após a leitura, vamos dedicar alguns minutos à reflexão, em respeito à memória de Evandro.
ECOS DO ÃO
Nos cabe, tão somente, a reflexão. Nessa época em que cada um de nós é chamado a responder por isso. Expliquemos então aos nossos filhos como pudemos permitir que a sociedade chegasse a esse ponto... Temos uma Conferência de Cultura nos próximos dias. Hora mais do que propícia para pararmos para refletir.O tempo todo em que acompanhei as notícias desse crime, uma música não me saiu da cabeça. Reproduzo então a letra abaixo, que é também um belo poema do Lenine. Após a leitura, vamos dedicar alguns minutos à reflexão, em respeito à memória de Evandro.
Rebenta na febem rebelião
Um vem com um refém e um facão
A mãe aflita grita logo: não!
E gruda as mãos na grade do portão
Aqui no caos total do cu do mundo cão
Tal a pobreza, tal a podridão
Que assim nosso destino e direção
São um enigma, uma interrogação
E se nos cabe apenas decepção
Colapso, lapso, rapto, corrupção?
E mais desgraça, mais degradação?
Concentração, má distribuição?
Então a nossa contribuição
Não é senão canção, consolação?
Não haverá então mais solução?
Não, não, não, não, não...
Pra descender a densa dimensão
Da mágoa imensa e tão somente então
Passar além da dor, da condição
De inferno e céu, nossa contradição
Nós temos que fazer com precisão
Entre projeto e sonho a distinção
Para sonhar enfim sem ilusão
O sonho luminoso da razão
E se nos cabe só humilhação
Impossibilidade de ascensão
Um sentimento de desilusão
E fantasias de compensação?
E é só ruína tudo em construção?
E a vasta selva só devastação?
Não haverá então mais salvação?
Não, não, não, não, não...
Porque não somos só intuição
Nem só pé de chinelo, pé no chão
Nós temos violência e perversão
Mas temos o talento e a invenção
Desejos de beleza em profusão
E idéias na cabeça coração
A singeleza e a sofisticação
O choro, a bossa, o samba e o violão
Mas se nós temos planos, e eles são
O fim da fome e da difamação
Por que não pô-los logo em ação?
Tal seja agora a inauguração
Da nova nossa civilização
Tão singular igual ao nosso ão
E sejam belos, livres, luminosos
Os nosso sonhos de nação.
Lenine - Falange Canibal - 2003




0 comentários:
Postar um comentário